sexta-feira, 20 de setembro de 2013

Distrito 9

Deixa eu avisar uma coisa antes: Ali embaixo - e em cima também - você vai ver um marcador, um tal de "aquecimento", que vai servir pra separar posts como este aqui, que você está lendo, em que o texto do post tenha, de algum modo, uma relação direta com um lançamento nos cinemas brasileiros nos próximos dias. Pode ser falando sobre um filme específico, apresentando alguma franquia ou seja lá o que for, mas tem que ter algum elemento que o ligue diretamente ao lançamento, não somente uma pequena coisa que os interligue. Entenderam? Bom, então vamos ver como é que funciona.



Distrito 9 [District 9, 2009, África do Sul/EUA/Nova Zelândia/Canadá. Direção: Neill Blomkamp]

Hoje mesmo, está chegando aos cinemas brasileiros Elysium, ficção científica com Matt Damon, Jodie Foster e Wagner Moura. Este filme também é dirigido pelo Neill Blomkamp, que quatro anos atrás - apadrinhado pelo Peter Jackson - trouxe uma ficção de orçamento relativamente baixo, mas com grande sucesso de público e crítica, e, que dizem, ter semelhanças com este seu novo projeto além de simplesmente o nome do diretor nos créditos. Este sucesso se chama Distrito 9.

Como devo ver o tal Elysium nos próximos dias, decidi conferir este trabalho e posso dizer que os elogios não estavam errados. Distrito 9 tem um conceito fantástico, mas o desenvolvimento torna-o ainda mais grandioso. Uma nave extraterrestre pousou na África do Sul, quando não pode mais seguir em sua viagem, e o governo do país, sofrendo a pressão internacional, decidiu criar um complexo habitacional supervisionado para manter as criaturas e proteger a população local da possível ameaça. O problema é que o complexo, precário, torna-se um caos, já que assim como os seres humanos, os alienígenas também tem um sistema desorganizado de divisão social. O déficit ainda é maior pelo fato de o país não estar preparado para receber os seres - como qualquer nação estaria com uma situação destas -, e acaba tratando-os com preconceito e crueldade.

A produção de Neill Blomkamp traz seriedade e aprofunda-se em tudo o que a ficção científica oferece a um bom cineasta para trabalhar com o gênero: Abordar questões e gerar reflexões a respeito nossa realidade, nossa história e atualidade, através dos elementos fantásticos. O modo como a população e - especialmente - o governo recebem os "visitantes" representa uma baita crítica no preconceito que está instaurado em nossa humanidade, a negar inicialmente tudo o que contradiz nossos hábitos. A crítica funciona para qualquer região e grupo social - não é a toa que o filme levou tanta gente aos cinemas, no mundo todo -, e pode fazer todo mundo refletir sobre o modo como recebemos imigrantes, pessoas de opção sexual diferente, entre outros casos. Os questionamentos também funcionam com a questão do governo e das grandes corporações. A entrada do estado e da MNU (MultiNacional Unida) no complexo tem uma retratação que deixa bastante claro os seus interesses. Não são apenas em retirar os alienígenas de lá para proteger a população, mas também para resgatar o armamento destes e poder trazer melhores recursos para suas forças armadas. Ainda assim, o filme não precisa definir em momento algum se os humanos ou os alienígenas são "heróis" ou "vilões", você pode perceber que ambos tem seus problemas, ninguém é o bonzinho perfeito ou o puro cruel, embora a grande crueldade seja cometida pelos humanos.

Com toda esta profundidade de crítica e interpretação, a trama principal pode até ficar em segundo plano por alguns momentos, mas continua interessante. No caso, o que ocorre é que o chefe da operação da empresa, Wikus Van De Merwe (Sharlto Copley, em interpretação fabulosa), acaba sendo atingido por um material genético e entrando num processo de - uma assustadora - transformação para uma criatura alienígena. A coisa toda vira de lado e ele enxerga a crueldade de melhor forma, quando passa a ser perseguido pelo governo e por sua própria empresa para tornar-se, basicamente, uma experiência. Mas não pense que Distrito 9 fica só na questão mais profunda e inteligente sem saber muito bem como divertir, pois o longa ainda reserva ótimas sequências de ação - auxiliadas pela trilha sonora, clichê mas eficiente -, alguns momentos extremamente delicados e emocionantes, e efeitos visuais de verossimilhança impressionante - ainda mais pelo orçamento, que não é alto, mas com o bom auxílio da fotografia, que adota um estilo quase documental. Uma ficção científica em sua plenitude.

[Avaliação final: ****]

Até a próxima.

Nenhum comentário:

Postar um comentário