segunda-feira, 26 de fevereiro de 2018

The Square - A Arte da Discórdia

Uma das grandes virtudes percebidas pela Academia de Artes e Ciências Cinematográficas na composição de sua lista de indicados ao Oscar 2018 foi conseguir abarcar obras que representam o discurso social desejado pela instituição e, paralelamente, tenham colocado a realização cinematográfica como prioridade - evitando “berrar causas”. Casos de “Três Anúncios Para um Crime”, de Martin McDonagh, e “A Forma da Água”, de Guillermo Del Toro, por exemplo. Sob o comando de Ruben Östlund, que há três anos nos entregou o ótimo “Força Maior”, The Square – A Arte da Discórdia decide seguir outro caminho, o da distribuição efusiva e provocativa de suas teses, defesas e críticas - muitas vezes, de forma prioritária em relação à narrativa desenvolvida.

domingo, 25 de fevereiro de 2018

Lady Bird: A Hora de Voar


A cultura arrivista na qual vivemos altera fatalmente o período humano da juventude. Preciso deixar minha cidade para alcançar meus sonhos, preciso das oportunidades da cidade grande, preciso deixar minha família para alcançar a independência, preciso deixar aqueles com quem estou para atingir meus objetivos, preciso deixar de ser como sou para tornar-me bem sucedido. São as lógicas imperativas que passam a nos afligir. Tais aflições consomem a consciência de uma faixa populacional que, consequentemente, é hoje acometida pelos distúrbios psicológicos contemporâneos - depressão, burnout, ansiedade, estresse. E ainda àqueles que não chegam a tal estado, através de problemáticas como a instabilidade emocional - incapacidade de manter relações sólidas, sensação de deslocamento, dissolução e esvaziamento constante de interesses, anseios e projetos. Conflitos internos que, afinal, são parcela pétrea da etapa de amadurecimento de quase todo sujeito contemporâneo - incluindo a Lady Bird (Saoirse Ronan).

terça-feira, 20 de fevereiro de 2018

Me Chame Pelo Seu Nome


No primeiro momento em que Elio (Timothée Chalamet) tenta abrir-se, ainda mergulhado em receio, para Oliver (Armie Hammer), os dois são opostos espacialmente por um monumento e evidentemente distanciados pela composição do quadro. O nascimento da intimidade entre aqueles dois homens é marcado por uma resistência que angustia e requer um afago, a priori, inconcebível. A verbalização de um sentimento recíproco, mas, na percepção de ambos, inimaginavelmente correspondente. Incogitável.

 - Why are you telling me all this?
- Because I want you to know.
Because there is no one else I can say this to but you.

quinta-feira, 15 de fevereiro de 2018

O Destino de uma Nação


O subgênero das cinebiografias é muito mais povoado do que, em primeira impressão, aparenta ser - por óbvia razão: nos fascinam personagens que, embora notáveis e grandiosas, dividem conosco a pura e simples humanidade. Desde as tradicionais, retratos amplos e admiradores da vida e jornada de uma figura – exemplos são “Ray” (2004), de Taylor Hackford e “Jobs” (2013), de Joshua Michael Stern -, passando pelas ousadas e contestadoras – “The Doors” (1991), de Oliver Stone e “Bingo: O Rei das Manhãs” (2017), de Daniel Rezende – e, enfim, chegando àquelas que recortam e dramatizam um evento específico que seja metonímico da existência do protagonista, a exemplo de “Sniper Americano” (2014), de Clint Eastwood e deste O Destino de uma Nação, longa-metragem de Joe Wright integrante da lista de indicados ao Oscar de melhor filme em 2018.

quinta-feira, 8 de fevereiro de 2018

Três Anúncios Para um Crime

“Cos you joined the gang, man.
And i don’t care if you never did shit or never saw shit or never heard shit. You joined the gang. You’re culpable.”
- Mildred Hayes

Há uma carga de intolerância e julgamento taxativo que caracteriza as relações humanas do nosso tempo. Tornou-se aceitável e, pasmem, comum reduzir seres humanos a definições binárias, excludentes e pouco significativas. Julgá-los por inteiro a partir de apenas um fator.

terça-feira, 6 de fevereiro de 2018

The Post - A Guerra Secreta


A experiência fragmentada que marca a vida contemporânea contamina, inevitavelmente, a maneira como passamos a produzir e contar histórias. Narrativas perderam a percepção de integridade, a ideia da "experiência" que as envolvia foi dissolvida e, hoje, as acompanhamos, seja por streaming ou outros meios, de forma mais distanciada, resfriada, pensada sob o espectro da distração, da atenção dividida e, por consequência, reduzida. À narrativa tradicional, cabe nos reaproximar. Propor o (re)encanto. Com Meryl Streep e Tom Hanks como anfitriões e um experiente Steven Spielberg a guiar, The Post - A Guerra Secreta nos convida para uma boa história.