segunda-feira, 28 de outubro de 2013

À Procura de Sugar Man

À Procura de Sugar Man [Searching for Sugar Man, 2012, Suécia/EUA/Reino Unido.
 Direção: Malik Bendjelloul] 
Lançamento no Brasil: 13 de outubro de 2013, na TV por assinatura.

O documentário venceu o Oscar deste ano, mas como grande parte das produções do gênero, não passou pelos cinemas brasileiros e sequer ganhou versões para locação, estreando diretamente na TV por assinatura através dos canais HBO. Uma pena. Comprometendo-se a desvendar a história de Sixto Rodriguez, um talentosíssimo, porém praticamente desconhecido cantor e compositor, que conta com uma história misteriosamente fascinante, e evitarei aqui descrever mais sobre sua abordagem, uma vez que, caso você não faça parte do aparentemente seleto grupo que conhece a história do artista, se surpreenderá com cada nova descoberta sobre a mesma - e esta é, realmente, fascinante. 

Além de desvendar a verdadeira jornada de RodriguezÀ Procura de Sugar Man aproveita-a para realizar observações condizentes com o contexto desta, como a conclusão da tamanha injustiça que acontece dentro da indústria musical e o modo como o artista empenhou importante papel indireto em movimentos políticos em outra região do globo - papel este que nem mesmo o próprio conhecia -, tudo isto embalado pelas excelentes canções de Rodriguez e com uma divisão clara dos atos que dá até a certa lembrança de um longa ficcional - reservando verdadeiras reviravoltas para o terceiro ato -, numa das tramas mais envolventes que a Sétima Arte nos entregou neste ano e que merece ser vista por muito mais gente, assim como o próprio retratado.

[Avaliação final: *****]

Até a próxima.

segunda-feira, 21 de outubro de 2013

Os Suspeitos

Suspeitos, Os
[Prisoners, EUA, 2013. Direção: Dennis Villeneuve]
Lançamento no Brasil: 18 de outubro de 2013, nos cinemas.

Existem poucos filmes na história recente do Cinema - especialmente americano, e de grande produção - que aproveitam ao máximo os recursos fornecidos pela narrativa cinematográfica para construir sua atmosfera. Aqueles que o fazem, estão no gênero do suspense, como é o extremamente bem-sucedido caso de Os Suspeitos.

Duas famílias reúnem-se no dia de ação de graças para celebrar a data. São pais, com dois filhos cada, em famílias tradicionais e aparentemente satisfeitas; ou, numa diferente visão do que virá a ocorrer, bastante vulneráveis à crueldade de quem quiser atrapalhar sua felicidade. Justamente nesta data, as duas filhas menores, Anna (Erin Gerasimovich) e Joy (Kyla Drew Simmons) acabam desaparecidas e, após a procura dos pais, passam a ser procuradas pela polícia, que conclui seu sequestro. As pistas para encontrá-las, infelizmente, são pouquíssimas, e a polícia segue as regras necessárias para desenvolver sua investigação enquanto as famílias vão cedendo ao desespero conforme o tempo passa e suas filhas parecem cada vez mais distantes.

Nestas famílias, temos os patriarcas Keller Dover (Hugh Jackman) e Franklin Birch (Terrence Howard) e suas respectivas esposas, Grace Dover (Maria Bello) e Nancy Birch (Viola Davis), com os filhos mais velhos, Ralph Dover (Dylan Minnette) e Eliza Birch (Zoe Borde). No comando da investigação policial, está o detetive Loki (Jake Gyllenhaal) - na primeira sequência que o retrata, este surge no dia de ação de graças sozinho, num restaurante isolado e puxando conversa com a garçonete que se aproxima, algo que define muito bem sua personalidade. O principal suspeito de cometer o crime retratado é Alex Jones (Paul Dano) e, após, sua tia Holly (Melissa Leo). Toda a série de personagens retratados exercem sua grande importância para a trama, e como em certo momento o detetive cita, "Nada pode ser descartado". Mas as interpretações de seu elenco são o que coroa sua composição. 

Enquanto Jackman entrega uma interpretação mais minimalista, mas que ainda assim entrega toda a explosão do desespero de um pai, Jake Gyllenhaal surpreende com uma interpretação cheia de trejeitos - desde o piscar de olhos forte e constante para simbolizar a sensação de perigo, até a melancolia que expõe em seu olhar - e Paul Dano, nos poucos momentos que ganha, constrói uma performance assustadora com seu jovem atormentado - investindo também em diversos trejeitos para a construção, desde a movimentação constante das mãos para simbolizar sua inquietação até o tom baixo de sua voz, que será melhor compreendido na conclusão -, e embora outros grandes nomes vivendo os pais de Joy façam bons trabalhos, não existem grandes exigências em cima deles - embora Howard se destaque no contraponto de seu personagem à personalidade de Keller -, e Maria Bello entrega com segurança a tristeza de uma mãe alcançando o estado depressivo; talvez Melissa Leo seja o elo mais fraco do elenco - algo que já diz muito sobre este. A dedicação de todos ali funciona muito bem.

A construção executada no roteiro, assinado pelo pouco experiente Aaron Guzikowski (responsável pelo fraco Contrabando, do ano passado), para cada uma destas personagens pode parecer simples, e não precisa fugir completamente de alguns arquétipos estabelecidos, mas a transformação pela qual as mesmas passam durante o decorrer da trama torna-o mais interessante, passando pela transformação complexa de Keller, que passa de um homem de família correto e moralmente exemplar a um homem moralmente corrompido quando age com violência brutal contra Alex, em quem ele insistia suspeitar pelo crime, passando dos limites na busca por justiça. Diferentemente de obras como o próprio Busca Implacável - que inevitavelmente surge à memória quando se trata do tema, e por isto foi o exemplo citado -, que utilizam-se da temática do sequestro e vingança como justificativa para o uso da violência em busca de justiça por alguém próximo - também podemos traçar uma interpretação mais sutil que relaciona a questão com os casos de violência policial na suposta justiça que recentemente vivenciamos sendo lamentavelmente celebrados no Brasil -, Os Suspeitos trabalha com profundidade o tema e consegue atingir todas as consequências que este recurso trouxe, não somente àquele que depois viria a sequer ser culpado, Alex, mas especialmente a quem o agrediu quando ficou cego na busca por seus objetivos. Não há também como esquecer o modo como todo o caso atingiu profundamente o detetive, que se viu obcecado por aquela investigação e fortemente afetado por cada um de seus ocorridos mais bruscos. Nesta visão, o título original (numa tradução literal, "Prisioneiros") funcionaria muito melhor, uma vez que a trágica história do crime aprisionou cada um de seus envolvidos, de qualquer forma fosse.

Na visão de um simples suspense policial, no entanto, a tradução também é funcional - embora eu preferisse a literal -, uma vez que o roteiro nos consegue apresentar em seu desenvolvimento diversas situações para levantar suspeita sobre qualquer personagem, e este recurso aumenta a sensação de urgência da narrativa, um de seus grandes méritos. Durante as mais de duas horas - bem justificadas, conseguindo transmitir bem a duração da investigação e, com isto, levanta tanto desespero - da projeção, não há um momento em que a sensação não esteja presente e o espectador não se pegue inquieto na poltrona, e este mérito se deve a toda a construção de sua atmosfera.

Para realizá-la, Dennis Villeneuve (do elogiado, também por ser devastador como este, Incêndios) e toda a equipe que trabalhou em Os Suspeitos prezaram pela técnica e a capacidade artística, aproveitando ao máximo os recursos fornecidos, assim gerando um clima sombrio e assustador digno de qualquer boa produção de terror, mas inseridos num suspense criminal que geram muito mais urgência pelo maior realismo da ameaça. Desde a edição de som de Bub Asman, que segue o exemplo de clássicos do gênero ao destacar a respiração das personagens para envolver mais o espectador com seu desespero, inserindo ainda elementos como o ranger de janelas e portas para evocar a presença de ameaças no local, aliando-se à quase que completa ausência de trilha sonora letrada - esta, assinada por Johán Johánsson, trabalha somente com sons instrumentais, fundamental para não inserir sentimentos mais aliviantes ao longa -, mas deixando o destaque por conta da fotografia do sempre excepcional Roger Deakins (em seu segundo grande trabalho seguido, diga-se, pois no ano passado realizou uma belíssima direção fotográfica em 007: Operação Skyfall), que destaca-se pelo clima soturno provocado e a presença de tons frios desde o início da fita - eficiente em evocar que já existia algo de melancólico naquelas famílias mesmo antes do ocorrido principal, embora este jamais seja mencionado. Mas fica a cargo do próprio Villeneuve, na função da direção, levar suas câmeras ao acompanhamento de cada passo de suas personagens, utilizando enquadramentos quase sempre estáticos, assim não vendendo-se às comuns câmeras inquietas utilizadas para provocar maior tensão, mas ainda assim aproveitando os mais variados ângulos que o são permitidos - como a sequência do detetive Loki no porão comprova. Cada um dos recursos, por alguns vistos como artifícios, utilizados pelo cineasta, teve sua função para a proposta da narrativa.

E após o desespero, a angústia. No terceiro ato, Os Suspeitos encontra em seu final o equilíbrio entre o que deve ser explicado - fazendo inclusive a conexão com a questão do labirinto e dos dois suspeitos principais - e o que deve ser deixado em aberto, sem subestimar seu público. Ao mesmo tempo alcançando a angústia sentimental do espectador pelos trágicos ocorridos que este presenciou - especialmente no destino encontrado pelo desfecho -, e o prazer de qualquer cinéfilo em presenciar uma grande obra como esta, que representa muito bem como pode-se alcançar, mesmo num projeto comercial, toda a capacidade da sétima Arte em utilizar-se ao máximo de sua narrativa sem artifícios imaturos e previsíveis e, o mais importante, levando cada espectador a pensar e se questionar a respeito do filme visto horas e até dias após deixar a sessão. Afinal de contas, o Cinema não é uma experiência que dura apenas as horas preenchidas pela projeção. 

Resta então refletir se aquele homem realmente receberia seu último perdão.

[Avaliação Final: *****]

Até a próxima.

sábado, 12 de outubro de 2013

Gravidade


Gravidade [Gravity, EUA/Inglaterra, 2013. Direção Alfonso Cuarón]
Lançamento no Brasil: 11 de outubro de 2013, nos cinemas.

Qualquer singelo sopro de ar pode valer muito no espaço. Qualquer ideia singela pode representar muito mais para a Arte do que o aparente. Há obras que comprovam o valor de uma grande ideia por trás da execução, enquanto outras extraem reflexões inestimáveis da mais simples premissa possível. Felizmente, Gravidade aproxima-se mais deste segundo grupo.

Três astronautas localizam-se no espaço realizando a manutenção de uma base móvel para a Nasa, tudo corre bem e o trabalho é realizado com a monotonia de praxe dos que exercem a função, embora seja visto de forma fantástica por meros olhos terrenos. Quando o controle da Nasa abruptamente ordena que os astronautas abordem a missão, a base sofre uma chuva de destroços que a atinge e tira qualquer tipo de comunicação com a empresa. A dra.Ryan Stone (Sandra Bullock) imediatamente é solta em meio ao vácuo escuro espacial com pouco oxigênio em mãos, e o tenente Matt Kowalski (George Clooney) tenta recuperá-la. Estes são os únicos sobreviventes, e desta forma tentarão se manter, embora na maior das adversidades possível, até encontrarem outra saída de volta para a terra firme. Nisto se constrói o grande drama de sobrevivência situado no espaço que conduz Gravidade até o trabalho de sua execução.

Enquanto Matt é experiente na função e extremamente confiante na realização dos trabalhos, Ryan é insegura e não conta com tanto conhecimento do espaço, portanto, assim que os primeiros destroços atingem o local, a dra.Stone é a primeira a ser arremessada e deixada à deriva na imensidão, até que Matt realize o primeiro resgate e a leve de volta para a base. E é este personagem o responsável por trazer qualquer momento de presença de algum tipo de alegria ou bom-humor com o qual o longa conte, passando segurança ao espectador em seus atos, algo reforçado pela atuação de George Clooney, que embora tenha tido sua missão facilitada por um roteiro que coloca seu personagem para contar histórias rotineiras e ouvir músicas durante momentos de dificuldade, ainda rouba a cena em duas belas sequências do filme, mesmo que seja apenas com a voz, no momento em que entrega-se à morte para permitir à dra.Stone prosseguir na missão para sobreviver, ou apenas como uma ilusão, na sequência mais emocional da fita, em que a imaginação da protagonista, beirando a desistência, projeta a volta do tenente à nave em que esta está, após este ter partido, e embora nesta cena já tenha sido previsível desde um primeiro momento que aquela era apenas uma ilusão, não há como negar o lirismo presente neste instante. Enquanto Clooney pode permitir-se apenas a segurança e autoconfiança, é Bullock quem prova que pode ser uma grande atriz quando vivendo uma personagem que a permita fazê-lo, uma vez que, praticamente durante os 60 minutos finais, a atriz surge sozinha em tela, sem ninguém para contracenar além dos painéis verdes que projetam o espaço, e é capaz de tornar cada pequeno momento de dificuldade para sua forte personagem crível e tocante, apostando numa composição mais minimalista que ainda assim deixa transparecer toda a angústia na personalidade de Ryan Stone.

Mas nada seriam desses momentos tocantes não fosse pelo roteiro, assinado por Alfonso e Jonas Cuarón, que constrói o drama protagonista a partir de traumas passados desta - no caso, a morte de sua filha -, que torna extremamente compreensível para o espectador o fato de ela estar à beira da desistência a qualquer momento, justamente por não ter uma razão externa para continuar vivendo. Cada uma das adversidades vividas pela personagem proporcionam a extrema tensão que marca os felizmente contidos 90 minutos de projeção, que tornam a produção extremamente funcional como thriller, mas não é aí que reside sua complexidade. Alfonso Cuarón ensaia um estudo sobre a evolução de cada ser humano a partir de uma sequência na qual, assim que adentra-se à nave da EEI, Ryan por alguns minutos fica numa posição fetal sob a câmera imóvel do diretor, e caminhando até a chegada da astronauta na Terra, quando sente dificuldade para levantar-se já num território com gravidade e finalmente sente-se aliviada ao caminhar, numa alusão aos primeiros passos. A abordagem ainda consegue atribuir sentimentalismo e lirismo mesmo às sequências e eventos mais simples, como é possível perceber na partida de Matt Kowalski da trama, que embora tenha sido um personagem com pouco tempo de tela, consegue tornar-se um momento marcante.

Como mencionado em relação à premissa do longa, o grande ponto de Gravidade não é sua inventividade, mas sim sua execução. Portanto, a obra não é completamente original ou recheada de elementos inovadores, algo que não a traz grandes prejuízos. A criação do trauma prévio para a protagonista, por exemplo, não é uma questão complexa e poderia caber facilmente em dramas mais simples; o elemento externo inserido para dar a motivação necessária a esta mesma personagem - a citada cena da ilusão -, que abre o terceiro ato, poderia ser evitado em pretensão de outra decisão e o excesso de adversidades contínuas pela qual ela passa pouco antes deste momento poderá incomodar determinados espectadores. Numa época em que blockbuster algum - categoria na qual este aqui surpreendentemente se encaixou - é lá tão original, nada que atrapalhe muito esta produção, que pode não beirar a perfeição, mas funciona extremamente bem.

Justamente por seu grande mérito ser a execução, Alfonso Cuarón exibe um talento imenso na composição da mise-en-scène e no dinamismo com que conduz o longa, que une um olhar extremamente detalhista e sensível e, ao mesmo tempo, a capacidade de gerar tensão com eficiência. A fotografia de Emmanuel Lubezki é fantástica, aproveitando toda a beleza e profundidade da ambientação da projeção para tornar cada enquadramento digno de ser emoldurado - torçamos, agora, para que o Oscar 2014 possa finalmente honrar um dos melhores profissionais da área no Cinema atual. No entanto, a trilha sonora de Steven Price pouco arrisca a acaba passando apagada em meio às composições clichês inseridas para cada momento mais marcante. Ainda no campo sonoro, há de se destacar o extremamente verossímil trabalho de edição e mixagem de som. 

Observar um trabalho tão belo e intenso como este que compõe Gravidade a partir de uma ideia simples, dois bons atores - ou apenas uma, na maior parte do tempo - e uma tela verde é realmente revigorante.

[Avaliação final: ****]

Até a próxima.

sábado, 5 de outubro de 2013

Pearl Harbor


Pearl Harbor [ - , EUA, 2001. Direção: Michael Bay]

O grande propósito deste longa não é retratar o ataque japonês no território americano durante a Segunda Guerra Mundial, ou produzir um drama militar que abordasse a brutalidade e crueldade dos conflitos, menos ainda abordar os contextos políticos do ataque. Não. Pearl Harbor é apenas a construção de um grande melodrama para, em algum momento, utilizar toda esta jornada como desculpa para utilizar seus efeitos visuais em gigantes explosões e ataques aéreos, afinal de contas, quem está por trás da produção é o Michael Bay do século XXI.

Dois amigos desde a infância decidem juntar-se às forças armadas americanas - aparentemente, inspirados pelo discurso do pai de um deles -, e um deles, Rafe (Ben Affleck) conhece e se apaixona por uma enfermeira do exército, Evelyn (Kate Beckinsale), mas terá que abandoná-la para servir aos Estados Unidos como piloto de um avião de ataque em pleno conflito militar. Quando ele é dado como morto em ação, o seu grande amigo, Danny (Josh Hartnett) apaixona-se pela moça. No entanto, Rafe está vivo e voltará à base militar que dá nome ao filme, onde suas relações com o amigo e sua amada já estarão desestabilizadas, e justamente neste momento eles terão que voltar à ação e superar seus conflitos junto de todos os outros militares, uma vez que o local está sofrendo um grande ataque do Japão pelos ares e os Estados Unidos, despreparados para a ocasião, deverão se defender como puderem.

Infelizmente, todo o tempo gasto pelo roteiro assinado por Randall Wallace até chegar ao momento do conflito militar principal não é empregado em contextualizar politica e historicamente tudo o que havia por trás deste, mas sim em realizar longas apresentações para a formação do triângulo amoroso, da tristeza da partida e dos dramas com os quais suas personagens já haviam sofrido, tudo isso apelando para uma abordagem cafona e piegas, e ainda faltando com uma apresentação melhor elaborada desta grande amizade entre seus dois protagonistas, que sempre acaba soando como artificial. O longa gasta muito tempo com cada "episódio" da trama - assim são tratados pela problemática direção de Bay, que torna a narrativa até o início do ataque bastante episódica. Com isto, acaba também quebrando o envolvimento com os principais dramas desta, por não saber combinar cada um de seus eventos com um que o continue no mesmo clima - logo após a sequência da queda do avião de Rafe, temos a cena da luta entre dois marinheiros que não conta com qualquer importância dentro da trama -, e algo que também contribui para este problema é seu excesso de comicidade em alguns momentos onde isto não era necessário - alguns diálogos oriundos do personagem Red (Ewen Bremner), por exemplo.

Não consigo deixar de me incomodar com o excesso de patriotismo em Pearl Harbor, que é relevado por muitos espectadores em decorrência de "não ser o foco do filme", algo que acredito não ser justificativa no caso de um drama de guerra. O conflito todo é narrado colocando os EUA e o Japão num papel quase cartunesco de herói e vilão, respectivamente, e cada conversa banal que ocorre durante os eventos narrados pela fita torna-se palco para um discurso inspirador sobre a importância de servir ao seu país, isto sem mencionar a exaltação ao poder bélico norte-americano, que embora despreparados, sempre recorrem aos seus poderosos e salvadores armamentos para aliviar os danos sofridos. O longa até tenta realizar uma crítica ao preconceito dentro do exército - a partir do personagem de Cuba Gooding Jr. -, mas infelizmente esta não ganha o aprofundamento que merecia.

Contudo, não posso ignorar os méritos da produção, como seus excelentes efeitos visuais, que tornam os ataques japoneses verossímeis e arrasadores, sua direção de Arte, capaz de reconstruir as consequências destes mesmos ataques eficientemente, e em especial sua montagem, capaz de fazer as três horas da projeção passarem relativamente rápido, o que auxilia a experiência a tornar-se hábil ao menos em entreter. A trilha sonora de Hans Zimmer também ganha seus devidos elogios, pois embora trabalhe a favor do melodrama - o que não me levaria, por exemplo, a ouvi-la fora do filme -, é  intensa e grandiosa dentro da abordagem tomada por este. Em outros quesitos, no entanto, esta abordagem funciona mais como um problema.

[Avaliação final: /2]

Até a próxima.