sábado, 31 de agosto de 2013

Os Estagiários

Estagiários, Os
The Internship, EUA, 2013. Direção: Shawn Levy. Roteiro: Vince Vaughn e Jared Stern. Elenco: Owen Wilson, Vince Vaughn, Rose Byrne, Aasif Mandvi. Duração: 119 min. Lançamento no Brasil: 30 de agosto de 2013, nos cinemas.

A questão é bastante simples: O conflito de gerações, os costumes, e como eles mudam de uma geração para a outra. Aqui, elas serão experimentadas pela dupla formada por Vince Vaughn e Owen Wilson, a mesma dupla que já se infiltrou em festas - em Penetras Bons de Bico, mas não são os mesmos personagens -, agora se infiltrará na geração seguinte à sua.  

Os dois quarentões aqui vivem Billy McMahon (Vaughn) e Nick Campbell (Wilson), que acabaram de receber a notícia de que a empresa em que trabalhavam acaba de ser fechada e, consequentemente, ambos perderam seus empregos. Na idade em que estão, eles reconhecem que suas possibilidades futuras não são as mais positivas, mas Billy encontra uma possibilidade que, aparentando ser pouco palpável inicialmente, acaba se encaixando como o necessário: O Google. Com o verão aproximando-se, nos EUA, há uma série de estágios na temporada de férias para escolher novos funcionários em grandes empresas, e um dos mais concorridos é certamente o do serviço online, mas ainda que possa não ser o mais adequado para a dupla, quando há pouco a se perder, qualquer tentativa pode valer a pena. 


Passando por uma entrevista inicial via hangout, Billy e Nick contornam sua completa falta de conhecimento em informática com a boa conversa, e acabam conseguindo as vagas para o estágio de testes. E neste estágio Os Estagiários se situará, narrando todas as diversas confusões que serão vividas pelos dois personagens e também as dificuldades passadas por eles em decorrência de serem bem mais velhos do que a maioria de seus colegas e superiores, sendo com isso por diversas vezes direcionados a desistir da chance pela qual lutam, mas como o sonho - e o filme - não podem acabar ainda, eles continuarão buscando o trabalho no Google para voltar à grande fase, mesmo que ao seu modo diferente do que a empresa necessariamente procura.


O longa, desde o primeiro plano em que situa as dependências da empresa, busca enfatizar as qualidades e o modo inovador de se trabalhar no local - desde a alimentação grátis para os funcionários até as salas de descanso -, o que apesar de ser uma ação de marketing, não incomodará o espectador, por ser retratado com sutileza e se encaixar na trama, ainda que esta desperdice um instante ou outro somente para um plano que enfatize o local. Mas ao mesmo tempo que enfatiza as qualidades do Google, é interessante observar que o roteiro também reserva uma certa crítica à empresa, uma vez que mostra o modo de trabalhar da empresa como bastante sistemático e pouco humano - mais ligado a descobrir códigos do que a atender pessoas, para deixar mais claro -, e a chegada dos dois protagonistas veio para mudar este sistema, pois ambos, por serem mais experientes e seguirem seu trabalho do modo mais tradicional, sempre preferem priorizar a preferência das pessoas ao que os códigos apontam - e não somente por não conhecerem estes códigos -, por isso o apontamento de que a dupla - junto aos seus novos colegas do grupo de estágio -, cumpriu suas tarefas ao seu modo, modo este que não seguia justamente os padrões que a empresa desejava, mas foi os que o tornou tão marcantes naquela temporada do estágio.



Justamente ao observar Billy e Nick cumprindo suas tarefas com tanta falta de conhecimento sobre a área em que cumpriam, é que torna-se difícil para o espectador acreditar que duas pessoas com um conhecimento tão baixo na área da tecnologia pudessem ser sequer escolhidas para uma fase de testes numa empresa do nível do Google, portanto a grande conveniência acaba sendo notada e aborrece um pouco a experiência, ainda que não a atrapalhe muito, afinal, já havíamos tido de nos convencer que dois homens norte-americanos com seus quarenta anos e com um poder aquisitivo até avançado sequer tinham alguma noção do que era o Instagram, por exemplo, e mesmo que eles não fossem muito ligados com a tecnologia, estes pequenos erros acabam trazendo um déficit contido à obra, que por sorte sabe utilizar bem esta falta de conhecimento dos protagonistas para gerar boas referências pop - ainda que estas, por algumas vezes, sejam pedestres e existam para substituir diálogos de real importância para o desenvolvimento da trama -, como em determinada sequência - a mais engraçada do longa -, quando a dupla procura por um homem que os foi descrito como "Professor Charles Xavier", e como - sim! - eles também não conhecem o personagem, isto acaba gerando certas complicações; também há outras mais variadas referências, passando por Inferno Nº17 e caminhando até Flashdance. Juntamente das referências, o que também costuma marcar projetos protagonizados pelos dois atores em questão, são os diálogos de improviso, e aqui, o roteiro do próprio Vince Vaughn conta com o auxílio da química entre ele e Owen Wilson para gerar alguns destes, em especial num claramente perceptível, em que os atores soltam uma série de palavras para tentar descobrir uma senha.

Ainda há outros diversos problemas neste Os Estagiários, que caminham juntamente - e justamente em causa - de sua previsibilidade, uma vez que a comédia segue uma fórmula simples, - especialmente em seus conflitos, da busca pelo sonho e as dificuldades enfrentadas que os deixam de cara com a probabilidade da desistência, passando pelo interesse amoroso que surge como distração para Nick -, ainda que esta funcione em decorrência de o foco dramático do longa não ser muito profundo. Fórmula esta que ainda é enfatizada pela direção encomendada de Shawn Levy (lembre-se de que ele já fez isto em Uma Noite Fora de Série), que nem chega a incomodar - exceto pelos, por sorte, breves momentos do segundo ato em que o diretor perde a mão e sua narrativa fica um pouco episódica -, mas não traz nada de novo; ainda há os estereotipados personagens coadjuvantes  - há desde o jovem sem autoconfiança até o vilão valentão que implica com o grupo mais fraco da competição pelas vagas, passando também por aquela que não aproveita a vida como deveria em função do trabalho -, e, para finalizar, as mensagens de auto-ajuda sempre presentes em comédias familiares.

Ainda assim, Os Estagiários consegue ser inteligente o bastante para superar parte de seus problemas com sua principal qualidade dentro do gênero do qual faz parte: faz o público dar - muitas - risadas, sem em qualquer momento apresentar erros ofensivos o bastante para subestimá-lo. É uma comédia que propõe-se a entreter com bastante qualidade, e cumpre esta promessa, apesar dos problemas, trazendo ainda algumas boas reflexões sobre a questão do desemprego na faixa etária de seus protagonistas e a substituição de pessoas pela tecnologia - conversando, neste ponto, com o movimento da Terceira Revolução Industrial -, duas ótimas performances partindo de Vince Vaughn - extremamente divertido com a persona exagerada de seu personagem - e Owen Wilson - este dá o carisma necessário ao seu personagem mais contido -, e um trabalho de montagem que faz as quase duas horas de projeção passarem de forma extremamente leve e dinâmica; tudo isso, partindo de uma premissa simples, mas original e interessante o bastante para manter o cinéfilo bastante atento a todos os seus momentos, ainda que este já possa olhar um pouco mais longe e prever o desfecho que está por vir, algo que, em momento algum, prejudica a experiência.

O longa-metragem de trilha sonora quase tão divertida quanto sua própria trama acaba por passar longe do grandioso e colecionar problemas, mas alcança qualidades o bastante para efetivar-se como um filme acima da média, bastante divertido e inofensivo - para os dois lados, tanto por não trazer nenhum erro que ofenda o espectador, quanto por não levar este a pensar nele muitas horas após assisti-lo. Se estagiar no Google for como o longa nos mostrou, Os Estagiários aparenta-se muito com isto: traz suas dificuldades e problemas, mas sem dúvida é uma experiência interessante.

[Avaliação Final: ***]

Originalmente publicado no Loggado.

Até a próxima.

terça-feira, 27 de agosto de 2013

Voo ao Passado: Enigma de Outro Mundo, O

Enigma de Outro Mundo, O
The Thing, EUA, 1982. Direção: John Carpenter. Roteiro: Bill Lancaster, com base no argumento de John W.Campbell Jr. Elenco: Kurt Russell, Wilford Brimley, Keith David, T.K.Carter. Duração: 109 min.

Você pode pensar em O Enigma de Outro Mundo simplesmente como a invasão de uma criatura (ou "a coisa" como no título original), de origem desconhecida, invade e aterroriza nosso planeta, e isto ele é, mas as reações de admiração a cada grande momento deste verdadeiro clássico do terror não viriam apenas com isso.

A sequência inicial, que traz um helicóptero perseguindo a tiros um cão que corre pela neve, revela a aura do filme desde os primeiros minutos. E quando este cão foge do helicóptero - surpreendentemente, mas depois viríamos a entender - e alcança uma estação americana, instalada na Antártida, onde é acolhido pelos oficiais que ali vivem, e depois revela-se ser, bem... A criatura - ou, ao menos, uma delas.

O interessante é vermos a revelação de que o cachorro não está ali presente apenas para tornar-se a criatura, mas torna-se uma figura para o questionamento inicial da confiança, uma vez que o cachorro inspira a confiança imediata de todos os moradores da estação, por ser um animal costumeiramente ligado aos humanos. A questão se expande para o grande ponto do filme.

Depois viríamos a descobrir que o cachorro é o portador da criatura, mas ela passa por uma fácil reprodução de modo a assumir novas formas. Neste caso específico, o cachorro foi a melhor figura para representá-lo, e seria necessário que - após descoberto como a criatura - este não deixasse a estação para não espalhar o vírus; o animal costumeiro de estimação se torna presença obrigatória, e gera também o isolamento de todos os moradores da estação. O isolamento aqui é o elemento chave, muito além da criatura em si, que após suas primeiras aparições - construído com excelência para a época, e inspirador de muitas criaturas em filmes seguintes, diga-se de passagem -, foge do foco principal, que são os dramas de seus personagens em relação à situação.

O público não conseguirá se lembrar dos nomes de todos eles - talvez MacReady, Doutor, Fuchs e Childs -, mas todos os homens presentes naquela estação saíram - ou não -extremamente modificados daquela experiência. Entre as decisões de salvar sua própria vida e fugir da ameaça iminente e mais forte ou sacrificar-se para não deixar o vírus tomar o mundo, o comportamento de cada um deles será extremamente, e com o tempo, não existem mais amigos ou confiança, existe apenas a sobrevivência. O fato de a criatura poder tomar a forma física e os comportamentos de qualquer um que contaminar torna-a ainda mais ameaçadora, mas não somente ela, e sim todos os que convivem ali, pois ninguém pode garantir - nem a si mesmo - que não está tomado pela criatura, e aí entram as questões do caráter de cada um em relação ao isolamento, que agravam seus dramas e a resistência de cada um - o surto do médico talvez seja o ponto alto deste quesito -, demonstrando satisfatoriamente suas profundidades dramáticas de modo que eles não sejam somente formas para o vírus - como em muitos filmes de contaminação acontece -, mas sim elementos ainda maiores do que o próprio, ainda que mais fracos. Ali dentro, confiar em quem normalmente você confiaria se tornará algo impossível, algo que começou com um animal e foi ao homem; o ambiente tornou-se frio, em todos os sentidos que a palavra possa ser explorada. Todos estão à prova.

A direção de John Carpenter e a trilha sonora de Ennio Morricone demonstram a discrição e pontualidade necessária para conduzi-lo com tensão, enquanto os dramas são criados - com excelência - por si próprios. A tensão e os dramas crescem, e o que já era excelente diferencia-se, tornando-se um filmaço.

Talvez aquela estação fosse uma metáfora para um mundo de 31 anos depois, onde - por diversos motivos - cada vez confia-se em menos pessoas - na estação, em ninguém, mas compare a quantidade de pessoas presentes em ambos. Vai de cada um. E é o que torna-o ainda mais genial.

[Avaliação final: *****]

Até a próxima.

terça-feira, 20 de agosto de 2013

Voo ao Passado: Quem vê Cara Não vê Coração

Quem vê Cara Não vê Coração
Uncle Buck, EUA, 1989. Direção e roteiro: John Hughes. Elenco: John Candy, Macaulay Calkin, Jean Louisa Kelly. Duração: 100 min.

John Hughes trouxe alguns marcos para o Cinema, que ajudaram a definir sua época artística e humanamente, e que merece muito mais do que apenas este parágrafo para abordar sua obra como um todo. Por enquanto, assisti e escrevo sobre este filme aqui que não é um de seus marcos, mas certamente merece uma observação simplesmente por unir o cineasta a outro marco dos anos 80: John Candy. Eles já haviam trabalhado juntos dois anos antes, em Antes Só do que Mal Acompanhado, este sim um marco, mas lá o grande destaque não era Candy. Aqui sim.

O diretor sempre gostou de focar suas abordagens nas personagens jovens, seus pensamentos e visão da sociedade em que vivem, por isso, apesar de poder fazer seu primeiro enquadramento deste longa em qualquer outra personagem mais importante ou com mais empatia entre o público do filme - como os pequenos irmãos, o tio ou os pais -, prefere focá-lo em Tia Russell (Jean Louisa Kelly), algo que entenderemos no fim do filme. Os pais de Tia são ausentes, como logo vamos percebendo, e é ela quem cuida dos irmãos na maior parte do filme, mantendo a mediação entre as crianças para discutir com os pais sobre o que acontecia, mas claro que eles optam por ignorar a adolescente, apesar de amarem os filhos. Quando seu avô materno sofre um infarto e os pais devem viajar por uns dias para visitá-lo no hospital, a responsabilidade de cuidar da casa e da família vai ficar com a pessoa menos recomendada para a tarefa: o tio Buck (John Candy). A partir daí, ele ganha o filme, mas no fundo mesmo, quem move a história ainda é a garota.

A performance de Candy é excelente, cômica com uma gotinha dramática no terceiro ato, e o personagem deixa tudo nos trilhos para isso. Apesar de seguir o estereótipo que tantos trabalhos do ator seguiram, como o gordinho que tem um coração até excessivamente bondoso para a sociedade em que vive, por isso acaba incomodando muita gente - até parece um spinoff do seu personagem em Antes Só do que Mal Acompanhado, quando incomoda o Steve Martin. Aqui, apesar de poder simplesmente ficar cuidando da casa e dos filhos sem muita preocupação - como aparenta no início - o tio Buck vai mais a fundo e procura saber do que as crianças gostam, seus problemas e tenta corrigir algumas coisas que acontecem ali justamente por essa ausência dos pais, assim sabemos que depois desses dias, nem ele nem as crianças serão mais os mesmos. Mas especialmente Tia Russell. No início, a jovem faz de tudo para atrapalhar a estadia de Buck em sua casa, e ele retruca no mesmo nível, até que vão se conhecendo melhor e um conhece os problemas do outro, tecendo uma bonita relação de amizade quase paternal, com isso, ela sabe que também pode mudar algumas coisas para que sua relação com os pais seja melhor. A missão do tio Buck foi cumprida.

Claro que o roteiro de Hughes não fica no estereótipo para o protagonista e foge daquela áurea de um cara fracassado que poderia cercar o personagem do John Candy por sua personalidade, mas o tio Buck é diferente e tem toda a confiança necessária para tornar-se uma figura até imponente, como o diretor comprova com excelência quando utiliza apenas sombras ou seu contorno em meio a escuridão para retratar o personagem, utilizando esta técnica para atribuir visualmente a imponência dele, o melhor exemplo disso é quando Buck entra no quarto a procura do namorado de Tia, em que o diretor utiliza em sua câmera quase um contra-plongée para engrandecê-lo na tela. É bem verdade que todo mundo queria um tio como ele, sem sequer o personagem precisar ser politicamente correto, como num filme atual com este alvo certamente precisaria.

Quem vê Cara Não vê Coração traz esse espaço para o conhecimento pessoal, mas sem dúvida sua cena mais genial é aquela em que tio Buck começa a passar o aspirador assim que um repórter na televisão diz "o herói Ronald Reagan", encobrindo o som do aparelho. É uma crítica política sutil e inteligente, que só precisa de alguns segundos para funcionar. Mas o filme é inteiramente divertido e com toques de emoção, com um terceiro ato que o engrandece e nos faz perceber o quanto suas personagens ganharam naquela jornada, e o quanto a sétima Arte perdeu com as mortes de Candy e Hughes.

[Avaliação final: ****¹/2]

Até a próxima.

sábado, 17 de agosto de 2013

Círculo de Fogo / Percy Jackson e o Mar de Monstros

Nesta sexta-feira, tive a oportunidade de conferir duas das produções que estão em cartaz no circuito brasileiro, e nas linhas a seguir deixo minhas impressões sobre elas, que são Círculo de Fogo e Percy Jackson e o Mar de Monstros. Os textos ficaram breves e, logo, decidi uni-los em um post único. Então vamos ao que interessa:

Círculo de Fogo

A comunidade nerd se arrepiava na expectativa por ver robôs gigantes defendendo nosso planeta, neste longa de Guillermo Del Toro, algo que nos foi prometido e escondido durante três filmes por Michael Bay e suas megalomanias na franquia Transformers, mas este Círculo de Fogo está anos-luz distante dos defensores gigantes apresentados por Bay. Ainda unindo-se a isto às constantes homenagens e referências à cultura japonesa do tokusatsu, mas pegando tanto os fãs desta quanto aqueles que não são - como no meu caso - e suprindo certamente as expectativas.

Mesmo tendo mais de 120 minutos para se desenvolver, o roteiro de Travis Beacham e Del Toro apresenta tudo bem rápido, mostrando que o planeta já está sofrendo com os ataques dos Kaijus e criou o método dos Jaegers, como são denominados os robôs protetores, pra defender o planeta destes ataques, mas fique tranquilo, conforme o filme vai se desenrolando, a trama do motivo dos ataques vai sendo melhor desenvolvida, juntamente com algumas sub-tramas para desenvolver suas personagens, apoiando-se num grande recheio de clichês para isto - normalmente bem utilizados, mas depois tornando-se um pequeno problema para o filme -, enquanto o que realmente nos interessa são os confrontos.

Ao melhor estilo Power Rangers, dois pilotos controlam todos os movimentos dos Jaegers através de seus próprios corpos, abrindo aqui também o espaço para uma sutil crítica com a falta de mulheres no controle destes robôs, até que Mako Mori (Rinko Kikuchi) quebra os paradigmas e pilota um de nossos robôs-protagonistas. Quando já está tudo preparado para a batalha, teremos sequências grandiosas do confronto entre Jaegers e Kaijus que, mesmo cheias de ação, efeitos visuais e muito espaço ocupado, nunca nos deixam nos perder nelas graças a ótima direção de Del Toro, sem precisar de cidades sendo destruídas para comprovar a força dos envolvidos na luta, já que em sua maioria ocorrem no mar.

E aproveite com moderação, afinal de contas, será difícil evitar imitar os movimentos dos pilotos dos Jaegers na sessão onde estiver, bem como a vontade de pegar seus robôs de brinquedo e brincar com eles assim que chegar em casa. Empolgante e extremamente divertido - como sua cena pós-créditos.

Círculo de Fogo [Pacific Rim, EUA, 2013. Direção: Guillermo Del Toro]
Lançamento no Brasil: 09 de agosto de 2013, nos cinemas. [Avaliação final: ****¹/2]


Percy Jackson e o Mar de Monstros

Este aqui talvez seja bem pelo contrário, falta algo empolgante para uma obra que aspira ser uma franquia de sucesso entre o público jovem, ainda que não seja de todo ruim.
Três anos depois de um pífio, mas lucrativo, primeiro filme, as adaptações de Percy Jackson estão de volta aos cinemas com este longa que traz um desafio a todos os jovens habitantes do acampamento dos meio-sangue, em que eles devem enfrentar ciclopes, competições entre si e um mar de monstros para alcançar um velocito que pode salvar este acampamento, cujo campo de proteção está ameaçado.

Misturando um pouco de mitologia grega - com algumas falhas nessa parte - e sua própria mitologia mágica para justificar o poder das personagens nas situações enfrentadas, Percy Jackson e o Mar de Monstros explora melhor isso do que seu antecessor, bem como supera o primeiro filme em questão da ação em si, já que a direção de Thor Freudenthal se sai muito bem nesse sentido, com cenas claras e efeitos visuais - as sequências do barco no mar de monstros são bons exemplos -, além de encontrar um foco muito melhor do que no antecessor, que não se definia entre os dramas rasos e a "galhofagem" de alguns momentos, enquanto aqui aposta mais na seriedade - o sumiço de Grover (Brandon T.Jackson), comum alívio cômico, durante boa parte da projeção é parte da responsabilidade disto. E, praticamente, é só.

Cercado por clichês e previsibilidade desde os primeiros minutos, quando vemos a câmera alternando-se entre um desafio pelo qual Percy (Logan Lerman, carismático) passa e, em seguida, a reação de seus colegas; ou na insistente ao ponto de ser maçante e irritante rivalidade entre o personagem-título e uma colega que constantemente o vence em desafios no acampamento; mas é claro que se unem na primeira situação em que precisam trabalhar juntos; além dos constantes erros de pronúncia de Mr.D (Stanley Tucci, pagando suas contas) nos nomes dos jovens para demonstrar seu descaso com os mesmos e arrancar risadas de alguns poucos na sessão. Falta também originalidade ao longa, que de vez em quando se apoia bem claramente em alguns elementos de Harry Potter - a sequência do táxi deixa isso bem claro -, mas infelizmente, esta segunda parte não tem a coragem da própria saga do bruxo de Hogwarts de matar personagens importantes quando necessário, quando já no terceiro ato encontra - pasmem - três conveniências diferentes para trazer três de suas personagens anteriormente - e aparentemente - mortas de volta à vida.


Imagino que o longa tenha atrativos o bastante para os grandes fãs da série literária e, especialmente, o público mais novo que busca uma aventura com elementos que os atraiam em live action, e portanto a franquia seguirá com um bom resultado comercial, mas ainda no aguardo de algo que empolgue mais do que apenas um longa, no máximo, mediano, cuja projeção não passa tão rápido quanto o esperado.

Percy Jackson e o Mar de Monstros [Percy Jackson: Sea of Monsters, 2013, EUA. Direção: Thor Freudental] 
Lançamento no Brasil: 16 de agosto de 2013, nos cinemas. [Avaliação final: **] 

Até a próxima.

terça-feira, 13 de agosto de 2013

Voo ao Passado: Meus Vizinhos São um Terror

Meus Vizinhos São um Terror
The 'Burbs, EUA, 1989. Direção: Joe Dante. Roteiro: Dana Olsen. Elenco: Tom Hanks, Bruce Dern, Carrie Fisher e Corrie Feldman. Duração: 101 minutos.

A carreira do Tom Hanks é algo bastante interessante de se analisar, pois diferente do que ocorre com muitos atores tão consagrados quanto ele, que começam sua carreira topando projetos muito duvidosos apenas para pagar suas despesas de iniciante até que um filme surja para consagrá-lo comercialmente e/ou em premiações, o californiano já fazia filmes de grande sucesso entre o público desde o início de sua jornada no Cinema, praticamente; alguns deles hoje sendo considerados pequenos clássicos oitentistas - como Quero Ser Grande -, e quase todos sempre cogitáveis para uma boa sessão de comédia - como Um Dia a Casa Cai -, até que finalmente tornou-se um ator consagrado também pela crítica, Oscar e afins - com Filadélfia -, em seguida fez diversos dramas excelentes e vinha há alguns anos atravessando uma fase um pouco mais fraca, que para a sorte dos muitos admiradores de seu trabalho parece estar acabando. Este Meus Vizinhos São um Terror faz parte inicial de sua carreira, como um dos principais jovens astros de comédia norte-americanos, e ainda que não tenha se tornado um clássico, faz certamente parte dos sempre cogitáveis para sessões cômicas.

Lançada em 1989, Meus Vizinhos São um Terror conta com elementos bastantes característicos não somente de sua época, mas também da cultura americana, que variam desde seus figurinos tipicamente oitentistas até o comportamento de suas personagens, ao observarem a vizinhança durante as férias de verão no país - aparentemente -, todos se conhecem e moram próximos, com suas casas e comportamentos que representam muito bem o sonho americano. A trama fala desta vizinhança que seguia normalmente suas vidas até que uma nova família chega à vizinhança, e intriga a todos por seu comportamento estranho, nunca aparecerem à vista dos vizinhos e manterem a casa mal cuidada, mas quando a paranoia toma a cabeça de todos os vizinhos, especialmente Ray (Hanks), a respeito destes mistérios que rondam os novos moradores, uma verdadeira expedição cerca a casa dos mesmos, gerando confusões maiores do que o esperado. 

O interessante é que, apesar de ser bem despretensiosa, a comédia alcança uma inteligência muito bem-vinda, como no poder de sátira que a direção de Joe Dante consegue atribuir a algumas sequências ali - como na excelente cena em que a câmera se afasta e aproxima das personagens de Hanks e Rick Ducommun enquanto ambos gritam "noooo!" como numa lamentação dramática (para a impressão inicial, é a imagem que ilustra o texto), ou quando as câmeras voltam-se também dramaticamente quando alguma personagem solta uma frase de efeito bem caricata, além da atmosfera sombria que cerca todas as cenas na casa dos novos vizinhos.

Em menor escala, há uma crítica ao conservadorismo a partir do personagem veterano de guerra, patriota e cristão vivido por Bruce Dern, numa performance enlouquecida e inspirada. Mas esta mesma crítica passa por um maior aprofundamento com a abordagem das proporções da especulação da vizinhança, afinal de contas, não é uma mentira que sempre que alguém novo ou com comportamentos diferentes dos nossos surge em nossos círculos de interação, um estranhamento sempre ocorre - claro que aqui, este toma uma proporção implausível -, e o discurso de Ray próximo ao desfecho nos explicita melhor isto, afinal de contas, os loucos seriam os mais fechados, que não aceitam alguém diferente deles, ou aqueles que tem comportamentos diferentes? A conclusão é de cada um, mas a divertidíssima comédia funciona para todos.

[Avaliação final: ***¹/2]

Até a próxima.

domingo, 11 de agosto de 2013

Red 2 - Aposentados e Ainda Mais Perigosos

Red 2 - Aposentados e Ainda Mais Perigosos
Red 2, EUA, 2013. Direção: Dean Parisot. Roteiro: Jon e Erich Hoeber, com base nas HQs de Warren Ellis e Cully Hammer. Elenco: Bruce Willis, John Malkovich, Mary-Louise Parker, Catherine Zeta-Jones, Brian Cox, Bryung Hun-Lee, Helen Mirren, Anthony Hopkins. Duração: 116 min. Lançamento no Brasil: 02 de agosto de 2013, nos cinemas.

Red - Aposentados e Perigosos surgiu em 2010 como uma das grandes surpresas daquele ano, numa comédia de ação que trazia certa nostalgia e um surpreendente apelo junto ao público, garantindo esta sequência que acabou decepcionando em relação ao sucesso comercial, ainda que tenha um clima extremamente semelhante ao da obra que o originou.

Assim como estavam na primeira jornada, Frank Moses (Bruce Willis) e Marvin (John Malkovich), seguem suas monótonas vidas de aposentadoria atualmente, mas como notórios ex-agentes acostumados com a adrenalina da vida que tinham, parecem estar fartos de tudo aquilo - especialmente no caso de Marvin -, e quando suas cabeças estão de volta a prêmio por diversas instituições de todo o mundo por serem considerados ainda mais perigosos, é claro, surgirá a oportunidade perfeita para que voltem a ação e vivam novas aventuras já na idade avançada, mais ou menos como foi da outra vez, mas alçando missões mais grandiosas ao redor do mundo. Sendo caçados por inimigos que estão muito mais próximos de alcançá-los, como o assassino profissional Han (Bryung-Hun Lee) ou inclusive Victoria (Helen Mirren), que embora seja amiga da dupla, foi designada a matá-los e acabará relevando isto com o tempo para ajudá-los em sua missão, que tem como objetivo principal encontrar um dispositivo nuclear perdido, mas para isso terão que proteger-se do todos os inimigos em sua busca. Um simples grande palco para que a equipe corra por todo o globo em suas missões grandiosas e cheias de confusões.

Voltando a unir as personagens de Willis, Malkovich, Mirren e Mary-Louise Parker (com as baixas de Morgan Freeman, com seu personagem morto no primeiro filme, e Brian Cox, que tem somente uma breve aparição aqui) comandando as missões e ganhando a companhia de Catherine Zeta-Jones, Anthony Hopkins e Bryung Hun-Lee como personagens que variam de vilões a aliados da equipe por diversas vezes, na verdade a grande diversão do longa parte de todos estes nomes, seja de Bruce Willis vivendo o mesmo Frank Moses de antes, que acaba tendo um comportamento divertido por sua fragilidade emocional em sua relação com Sarah (Parker), mas com a imponência do bad-ass que é quando vai à luta, já que como por diversas vezes concluem Marvin e a própria, ele precisa da ação, é aquele típico ex-policial que não consegue abandonar seu trabalho na lei, ou aqui, mais como um anti-herói (seria um John McClane aposentado?), algo que Willis sabe bem fazer, uma figura sempre carismática. Marvin surge mais uma vez como o destaque, fazendo valer seu maior destaque na continuação com o cinismo e uma certa loucura bastante divertidas. Pena ver Helen Mirren e Catherine Zeta-Jones mal aproveitadas, já que enquanto a primeira aparece muito menos do que no primeiro filme - apesar de entrar mais em ação -, a segunda vive uma personagem introduzida aqui e que vai pouco além de mais um conflito para a relação entre Moses e Sarah, já que previsivelmente vive uma mulher que envolveu-se amorosamente com o protagonista há alguns anos, tanto que sua morte durante a projeção acaba pouco sentida pelo espectador; as inserções de Hopkins e Lee são coadjuvantes funcionais, enquanto o primeiro também vive um personagem sínico e o consagrado ator parece se divertir bastante em sua composição, o caso do segundo poderia facilmente ser substituído por um Jet Li ou algo parecido, servindo para gerar algumas sequências de artes marciais durante a trajetória do longa. Mas o inesperado destaque de Red 2 - Aposentados e Ainda Mais Perigosos fica por conta de Sarah, a personagem de Mary-Louise Parker que teve um crescimento impressionante do primeiro filme para cá, que vai da inofensiva dama que necessita da proteção de seu namorado Frank Moses até alguém sedenta por participar mais ativamente da missão em que está envolvida, rendendo alguns dos momentos mais divertidos da mesma.

Ainda que utilize esta dinâmica entre as personagens como algumas muletas para o seu roteiro - o interesse de Sarah na missão, por exemplo, é sempre utilizado para justificar a explicação do que será alguma personagem ou armadilha que está para surgir, explicações estas sempre dadas por Marvin, inclusive revelando por duas vezes que Han é um respeitado assassino profissional, a pedido da moça -, a mesma acaba sendo o grande trunfo de Red 2 - Aposentados e Ainda Mais Perigosos, juntamente com algumas ótimas sequências de ação, o que constitui o longa como competente justamente no que se propõe: ser uma comédia de ação. A comédia, trazida pela interação entre as personagens, e a ação definindo-se por si própria, em especial numa competição travada entre os carros de Frank e Katja (Zeta-Jones) e Sarah e Marvin para ver quem alcança o conhecido criminoso "O Sapo" primeiramente, e naquela em que Victoria divide o carro com Han, utilizando uma arma em cada mão para acabar com quem a persegue com direito a Rock'n'Roll e slow motion; são bons exemplos da mistura abordada aqui.

Infelizmente, o diretor Dean Parisot não tem um trabalho tão bom quanto o de seu antecessor, Robert Schwentke, e por vezes se rende a uma inverossimilhança exagerada, que não incomodava no original, mas acaba ocorrendo aqui, além de gastar tempo demais na busca por alguns pequenos objetivos que tornam a película levemente mais inchada do que deveria, ainda assim, mostra ser talentoso na direção das cenas de ação, que deixam tudo bem claro, não tendo muito trabalho nas cenas cômicas, em que basta deixar seu elenco estar bem a vontade. Os problemas acabam atingindo também a montagem, que na tentativa de recriar uma abordagem, de alguma forma, mais similar à dos quadrinhos, acabam deixando a narrativa tornar-se episódica durante algumas sequências do segundo ato - como aquela em que Frank e Victoria atravessam a clínica psiquiátrica para buscar Bailey (Hopkins), ou mesmo no exagero para clarear ao público a localização geográfica daquele momento da trama.

A maioria destes problemas abordados fazem parte do bastante problemático segundo ato da trama, que viria a encontrar seu ápice já no terceiro ato, onde localizam-se as mais grandiosas sequências de ação do longa e ainda agrupam o maior número de tempo em que toda a equipe reúne-se para a ação, tudo isso partindo-se de uma reviravolta bem inserida - apesar de um pouco previsível - com o personagem de Hopkins, que antes um confuso e enlouquecido velhinho que não encontrava o dispositivo nuclear por ele armazenado, passa a uma sínica ameaça à segurança de nossos protagonistas, caminhando para um final que nós até já podemos prever, mas funciona bem ao clima descontraído do longa - especialmente em sua cena final, digna de gargalhadas.

Red 2 - Aposentados e Ainda Mais Perigosos tem exageros negativos e positivos que acabam se equilibrando, se assim pode-se dizer, funcionando dentro de sua proposta e, quem sabe, até frustrando um pouco pela grande probabilidade de não vermos uma nova jornada amalucada  destes veteranos. Está longe de ter o frescor de seu antecessor, mas por sorte também não é mais do mesmo.

[Avaliação final: ***]

Texto originalmente publicado no Loggado.

Até a próxima. 

quinta-feira, 8 de agosto de 2013

Voo ao Passado: Bruxa de Blair, A

Bruxa de Blair, A
The Blair Witch Project, EUA, 1999. Direção e roteiro: Daniel Myrick e Eduardo Sánchez. Elenco: Heather Donahue, Joshua Leonard, Michael C.Williams. Duração: 81 min.

Não há como se envolver com A Bruxa de Blair sem se deixar levar pela mitologia do longa. Apesar de sua filmagem ser feita como num documentário, não necessita-se acreditar nas lendas do terror vividas por suas personagens para envolver-se com elas, e talvez seja isso que leve muita gente a gostar menos do filme, por não aceitarem completamente a ideia de uma construção documental para vários eventos extremamente implausíveis serem mostradas na tela. Está certo que de uns tempos para cá surgiram diversos outros filmes que seguem esta abordagem, mas talvez nenhum deles procure um realismo tão grande quanto este.

Três jovens estudantes viajam a uma pequena cidade americana para filmarem um documentário sobre as lendas urbanas que se popularizaram nesta, entrevistando diversos moradores antes de se aventurarem à floresta Black Hill, onde grande parte destas lendas se passam. Inicialmente, suas ideias eram de apenas narrar quais são as lendas contadas no local, mas quando o tempo passa e eles continuam presos naquela floresta, o terror destas histórias será vivenciado por eles. Mas veja bem - voltando aqui a abordar a questão do envolvimento -, mesmo sem acreditar nestas lendas urbanas, é possível colocar-se no lugar do trio protagonista sem muita dificuldade, pois com uma certa coragem e curiosidade, fica difícil evitar pesquisar sobre uma lenda assustadora que você conheça, e isto pode ir desde uma simples pesquisa na internet até experimentar tentar encontrá-la na prática, o que foi exatamente o que os três tentaram. Mas a brincadeira acabou indo além do planejado.

Assim como são três os estudantes que o protagonizam, A Bruxa de Blair tem três grandes qualidades que o destacam: a primeira e menos profunda, com a questão do próprio Cinema, já que os cinéfilos sem dúvida se identificarão ainda mais com este ânimo da protagonista Heather (Heather Donahue) em continuar o documentário mesmo com as adversidades, por seu sonho ser fazer o filme amador. Justamente daí, surge o segundo ponto, com o found-footage que sem dúvida o marca na história; e mesmo que não seja o pioneiro na técnica, sem dúvida A Bruxa de Blair o revolucionou - hoje em dia, a franquia Atividade Paranormal dificilmente existiria se não fosse pelo sucesso deste projeto aqui -, trazendo um realismo impressionante em sua abordagem, que sempre utiliza o recurso da câmera estar nas mãos de algum dos protagonistas para a montagem do documentário, logo, as filmagens continuam quando as situações inesperadas estão acontecendo, mas o interessante é que em quase nenhum momento da trama este recurso soa artificial, e nos introduz ainda mais a um clima de tensão pelos riscos ali passados - e conhecendo o fato que os atores não sabiam completamente do que ia ocorrer ali, o clima verdadeiro torna-se mais compreensível ainda-, sendo este realismo fruto da principal qualidade da projeção a que chegamos aqui, pois esta consegue gerar tensão através de seus recursos sem, em momento algum, precisar deixar explícitos os eventos que geravam o terror passado ali, sempre jogando somente algumas pistas, movimentos e as reações das personagens sobre isto, um grande mérito, ainda que não traga sustos grandes. Está certo que o longa utiliza alguns recursos um pouco falhos também, como exagerar na quantidade de depoimentos dos cidadãos para ganhar alguns minutos sem precisar aprofundar suas personagens, ou a questão da perda do mapa, que acaba sendo bastante conveniente, mas ainda assim é extremamente competente e, sem dúvida, inovador.

Imagino que esta questão do "documentário" tenha sido utilizada também como um bom marketing para A Bruxa de Blair, e não é a toa que o filme foi um sucesso comercial impressionante, ainda mais por trazer esta questão da busca por lendas urbanas macabras a realidade dentro de sua narrativa, algo que sempre funciona com o imaginário popular.

[Avaliação final: ***¹/2]

Até a próxima.

quarta-feira, 7 de agosto de 2013

Analisando as bilheterias - 02 de agosto


O fim de semana passou, mais filmes estrearam indo bem nas bilheterias, outros nem tanto, e alguns ainda se mantém no topo, mesmo após algumas semanas em cartaz. 

Não mudo minha visão de que a qualidade de um filme nunca pode ser medida por seus resultados comerciais, pois há diversos fatores que determinam o sucesso de um filme entre o público, e eles não se atém apenas à qualidade da produção; mesmo assim, é sempre um exercício interessante e prazeroso analisar as bilheterias do final de semana e ver que filme estreou bem, qual continua indo bem, qual está decepcionando com seus resultados e as diversas outras opções que podem surgir. Para isso esta coluna servirá, pois aqui faremos uma análise informal, mas ainda assim embasada, das bilheterias do último final de semana - a coluna não será semanal, somente quando possível -, tanto nos EUA quanto aqui no Brasil, tentando ajudar a todos os cinéfilos que buscam entender o foco atual do "mercado" cinematográfico, mas também não abordaremos todos os filmes que integraram o top 10 de arrecadação do período, e sim somente o que valer a pena ser abordado; antes que cause alguma confusão, também deixo avisado que a data do título marca a sexta-feira que marca o início do último final de semana, justamente o dia das estreias. Então vamos voar um pouco até a terra do Tio Sam (e não gosto desta expressão) para ver o que aconteceu por lá:

- Acredito que todo mundo esperava ver Os Smurfs 2 no topo em sua semana de estreia, mas os pequenos azulados renderam bem abaixo do que poderiam para as 3.866 salas em que chegaram, já que alcançaram pouco mais de US$17.500.000, enquanto Dose Dupla, que custou apenas 61 milhões de dólares, começou sua jornada com pouco mais de US$27.000.000 em caixa, e com cerca de 800 salas a menos do que a continuação animada para fazer seus resultados; aliás, todos os filmes até a sexta posição estão em mais salas do que a ação com doses de comédia estrelada por Denzel Washington e Mark Wahlberg, o que torna o sucesso do filme ainda maior. Não sei quanto a vocês, mas eu já estava curioso para conferir o filme mesmo antes destes resultados, e espero que o público americano tenha escolhido bem, já por aqui, Dose Dupla só chega no final deste mês. 
Mas a questão principal para Os Smurfs 2 foi não garantir sequer a segunda posição, que ficou com Wolverine - Imortal, o bom filme estrelado por Hugh Jackman na pele e nas garras do herói. A sorte da animação é que ela deve lucrar bastante mundialmente sem muitos esforços, mas o mesmo não pode se atribuir a Turbo, uma ótima animação que tinha tudo para fazer sucesso de público, mas acabou caindo no esquecimento e já está somente em sétimo, além de ainda sequer ter se pago nas bilheterias mundiais. 
No mais, Red 2 - Aposentados e Ainda Mais Perigosos, pelo jeito, só terá forças para alcançar os 50 milhões de dólares em seu país, o que está muito longe dos 84 milhões que custou, enquanto a onda do terror barato e extremamente lucrativo segue forte com Invocação do Mal.

- Mas e no Brasil? Bom, aqui no nosso país, Os Smurfs 2 teve mais facilidade para liderar, por não ter uma estreia tão forte em seu caminho, já que Red 2 - Aposentados e Ainda Mais Perigosos decepcionou, ficando apenas com a quarta posição. Wolverine - Imortal e Meu Malvado Favorito 2, que tem bem mais apelo junto à todas as idades, representaram os mais próximos da turma de Smurfs. 
Os fraquíssimos nacionais extremamente comerciais Minha Mãe é uma Peça - O Filme e O Concurso também integram o top 10, mas a segunda opção está longe de ter o fôlego das outras produções da mesma linha que se tornaram grandes sucessos por aqui nos últimos meses, e dificilmente alcançará os 45 milhões de reais que o próprio Minha Mãe é uma Peça já acumula, pois tem pouco menos de 12 milhões e não tem fôlego para ir muito além disso.
Turbo, a terceira animação no top 10, infelizmente também não pegou por aqui e apresenta-se em poucas sessões desde agora, mesmo tendo atravessado apenas o seu terceiro final de semana. Apesar de não ser nenhum sucesso, o destaque curioso fica por conta de Tese Sobre um Homicídio (que já ganhou texto aqui no blog), subindo três posições em relação a sua semana de estreia e alcançando o décimo lugar, figurando na lista principal; não é a toa que a sessão que fui, já neste período, estava bastante cheia.

Até a próxima.

segunda-feira, 5 de agosto de 2013

Tese Sobre um Homicídio

Tese Sobre um Homicídio
Tesis Sobre un Homicidio, Argentina, 2013. Direção: Hernán Golfrid. Roteiro: Patricio Vega, com base no livro de Diego Paszkowski. Elenco: Ricardo Darín, Alberto Ammann, Natalia Santiago, José Luiz Mazza. Duração: 106 min. Lançamento no Brasil: 26 de julho de 2013, nos cinemas.

O suspense investigativo Tese Sobre um Homicídio diferencia-se da maioria das obras do gênero que povoam os cinemas brasileiros e normalmente são oriundas das terras norte-americanas, já que procura fugir da linhagem do Cinema comercial e segue uma linha mais detalhista e profunda, ainda que durante boa parte de sua projeção mantenha um ritmo digno de um bom suspense hollywoodiano, por isso é uma pena que esteja em cartaz no Brasil em tão poucas salas.

Embora o caso principal da premissa do longa apareça já no início do segundo ato, os eventos ocorridos durante os primeiros minutos do mesmo são de extrema importância para o que os sucederá, algo que vamos compreendendo conforme sua evolução acontece. O especialista em direito criminal Roberto Bermudez (Ricardo Darín, facilmente o principal nome do cinema sul-americano atual) ministra um respeitadíssimo seminário para advogados e dedica-se intensamente ao trabalho, como percebemos por seu profissionalismo ao lecionar. Na atual edição de seu seminário, Roberto recebe como aluno Gonzalo (Alberto Ammann), que viremos a descobrir ser bastante conhecido do professor, mas tudo segue normalmente até que, da janela da sala de aula, os alunos e o próprio Roberto presenciam a chegada da polícia para recolher o cadáver de uma jovem assassinada no estacionamento do complexo. Enquanto todos se assustam com o que estão vendo, Roberto observa com certa suspeita. 

Ainda que a troca de olhares entre Roberto e Gonzalo durante a cena acabe deixando a descoberta que surgirá mais previsível, o que acontece a partir deste momento é que o professor ficará tomado pela incessante busca de conexões que liguem seu aluno Gonzalo ao crime, pois toda a sua suspeita pela identificação do assassino caiu sobre este, e com isto percebemos o personagem principal cada vez mais envolvido com o crime e sua própria investigação - já que esta ocorre paralelamente à investigação da polícia. Diversos elementos que surgem durante o primeiro ato são utilizados principalmente para nos situarmos em relação à situação atual das personagens que se ocuparão da trama, sendo que sua principal movimentação surgirá somente a partir deste evento descrito.

Algo muito interessante de notar na construção do protagonista é que este aparenta durante todo o tempo estar excessivamente envolvido em seu trabalho - seja quando leciona, como comprovado com as sequências que abordam o seminário; ou ainda mais, quando envolve-se na investigação do assassinato, já que fica obcecado pela busca por ligações de Gonzalo com o crime -, e assim podemos observar características importantíssimas para o estudo de personagem, que é feito através de Roberto, a começar por sua ambiguidade - ao mesmo tempo que está em busca por justiça, não aceita sequer a possibilidade de que seu suspeito não seja o culpado -, e a própria obsessão por seu trabalho está fortemente envolvida com sua frustração, já que apesar de profissionalmente respeitado, o professor parece por diversos momentos esconder sua frustração pessoal e natureza solitária, que o longa transmite a partir de detalhes como sua constante adesão a vícios - o cigarro, a bebida, o girar da moeda -, suas ligações durante a madrugada, sua insônia - repare na negação ao café - ou na própria fotografia dentro de sua casa, que insiste em tons mais acinzentados. É um personagem inteligente e com sua visão própria e peculiar de mundo - o que justifica alguns de seus comentários mais ácidos, nos poucos momentos de humor do filme -, e que se olharmos mais de longe, notaremos alguém extremamente bem-sucedido - respeitado por colegas de profissão, idolatrado por alunos e com algumas conquistas amorosas pelo caminho -, mas que se torna mais interessante quando olhamos mais de perto e notamos alguém que, ainda assim, é inteligente e profissional, mas que se vê tomado pela situação que vive. Claro que há alguns problemas que prejudicam sua construção - o principal é seu excessivo poder de influenciar na investigação oficial do crime, que acaba não sendo muito realista para um professor de direito -, mas isto não apaga o extremamente eficiente estudo de personagem que é feito em cima do protagonista, e não tenha dúvidas que alguns dos méritos desta construção se atribuem ao próprio Ricardo Darín, que sem dúvida criou alguns trejeitos para atribuir ainda mais qualidade a seu Roberto Bermudez como personagem, e trabalha com excelência.

O roteiro de Patricio Vega concentra alguns erros, como o excesso de tempo gasto nas sequências do protagonista lecionando - e alguns diálogos, por serem estreitamente sobre a relação entre o professor e os alunos, acabam não funcionando já que o espectador não foi apresentado a esta relação -, algumas previsibilidades que incomodam um pouco quando surgem - como a já citada troca de olhares que entrega a suspeita - e um pequeno erro de continuidade - quando Roberto liga para Mônica visando contá-la sobre uma descoberta que fez na investigação, mas na verdade ele só vem a descobri-la alguns minutos depois -, mas são apenas pequenos problemas que não apresentam déficit para a obra como um todo, ainda mais quando este mesmo roteiro nos apresenta alguns diálogos de interessante crítica ao sistema judiciário - ainda que um maior aprofundamento aqui fosse bem vindo - aliados de um mistério competente, apesar das previsibilidades, e o verdadeiro destaque de Tese Sobre um Homicídio, que reside no trabalho da construção, estudo e queda de um personagem. Sem mencionar ainda algumas sutilezas que serão um prato cheio para o espectador mais atento, como quando o psicopata (e aluno) imita o gesto de girar a moeda como seu professor faz, sabendo que está sendo observado por este, e é justamente nesta guinada que o terceiro ato do filme cresce, já que passamos a conhecer mais também sobre a personalidade do assassino ou quando somos levados a concluir que uma cena - no museu, quando Gonzalo descreve um quadro de Picasso para Roberto - não tinha necessidade para a trama, mas quando vamos conhecendo mais sobre sua personalidade, tudo passa a fazer sentido. Enfim, é um texto rico em termos de linguagem.

Linguagem esta que funciona também por estar aliada a uma direção e um trabalho de fotografia que, embora não sejam brilhantes, são bastante competentes, seja em relação ao foco em pequenos detalhes em cena - como na espada da justiça - ou numa fotografia que torna mais fácil identificar quando a cena que vemos é apenas uma ilusão do protagonista - a iluminação fica mais amarelada, enquanto se escurece ocultando alguns elementos de cena -, além dos interessantes enquadramentos - curiosamente, quase sempre em cenas silenciosas - em que o que surge atrás deste mesmo personagem fica um pouco embaçado, denotando que ele deve estar em destaque na cena.

Anda cada vez mais raro presenciarmos um exercício como este num longa que se determina à narração de um mistério, um jogo de gato e rato, em que os personagens ficam em segundo plano, quando o foco são apenas as reviravoltas em si. Nos raros casos em que uma construção mais profunda ocorre, esta costuma estar focada no psicopata, o que acrescenta mais um diferencial a esta película. Em certo momento, uma das personagens do longa diz "nenhuma tese é perfeita". Tese Sobre um Homicídio também não, mas é ao menos excelente, uma obra sobre a qual há muito a se dizer, e considerando que este texto não constitui numa tese, espero que o mínimo necessário tenha sido dito. 

[Avaliação Final: ****¹/2

Texto originalmente publicado no Loggado.

Até a próxima.

Sobre o blog

O Cinema Voador é um blog de Cinema. Sim, Cinema, a sétima Arte em todos os seus modos e formas, seja transmitida através de um movimento ou até mesmo de um artista que desta faça parte, e isto será basicamente o que abordaremos aqui, tratando o Cinema da forma como ele deve ser tratado - como Arte -, mas sem a burocracia de um portal grande, o que jamais afirmaríamos ser, deixando sempre um bom espaço para a descontração e com altas doses da mais franca sinceridade.

Quem fundou tudo isto que você está vendo foi o Leonardo Lopes - no caso, eu -, um cinéfilo de carteirinha que gosta de dar seus pitacos com algum embasamento sobre isso, mas que considera estar bem longe de ser um especialista. Na verdade, sou é um grande curioso com tudo o que mais me fascina na Arte. 

O que eu espero é que você possa desfrutar desta tela escrita da melhor forma possível, como eu também farei, e que sempre que ache necessário, deixe sua crítica ou sugestão para podermos melhorar. 

Nos vemos por aí, e até a próxima.