domingo, 29 de setembro de 2013

Família do Bagulho

Família do Bagulho [We're The Millers, EUA, 2013. Direção: Rawson Marshall Thurber]
Pela segunda semana seguida, uma família disfuncional e politicamente incorreta tentando aderir aos hábitos mais tradicionais chega aos cinemas brasileiros. Se na semana passada, uma família verdadeira protagonizada o surpreendente A Família, nesta semana, uma família forjada intitula este Família do Bagulho, que está bem longe de surpresas, algo que não anula seus méritos.

Nosso protagonista é David (Jason Sudeikis), um homem à beira de seus quarenta anos que vive sem muitos compromissos e sustenta-se como um traficante pequeno, que vende drogas para conhecidos e vizinhos e é chefiado por Brad (Ed Helms, caricato), um criminoso bem maior. Quando David acaba tendo seu apartamento roubado após envolver-se numa briga com alguns jovens, ele perde todo o dinheiro dos negócios e as drogas que mantinha no local, e acaba recebendo de seu chefe uma dura missão para quitar as dívidas: ir ao México buscar uma determinada quantia de maconha com outro traficante e voltar aos Estados Unidos - por terra -, sem levantar suspeitas da polícia a respeito do que estava carregando ao atravessar a fronteira, por sua conta e risco. Sem enxergar outra opção, o traficante acaba topando o trabalho, mas agora terá que pensar numa estratégia para burlar a rígida vigilância americana, já que sua aparência não é das mais favoráveis para fazê-lo. 

Com isto se dá o conflito que move a trama, já que sua única opção para realizar o serviço será fingir ter uma família e levá-los nesta viagem, e as únicas pessoas que ele pensará em chamar para entrar em seu esquema e formarem sua família são sua vizinha Rose (Jennifer Aniston), uma stripper, seu vizinho Kenny (Will Poulter), um garoto sem muitas experiências vividas, e Casey (Emma Roberts), uma jovem delinquente que fugiu de casa. Basicamente, os três escolhidos - com a promessa de remuneração - são possivelmente as pessoas mais inadequadas para formarem uma família tradicional - juntamente com o próprio David -, mas ainda assim, são os únicos que topariam realizar algo assim. A partir deste ponto, os quatro partirão num trailer até o México e de volta, enfrentando diversas dificuldades no percurso - que variam desde um traficante os perseguindo até uma outra família que insiste em tê-los como amigos.

Infelizmente, a partir deste ponto também já torna-se possível prever o que ocorrerá entre as personagens principais apresentadas pelo roteiro inexplicavelmente escrito por oito mãos, sendo estas as de Bob Fisher, Steve Faber, Sean Anders e John Morris - que ainda não realizaram nada de excepcional em suas carreiras -, basicamente constituindo naquela dinâmica inicial de conflitos e ofensas trocadas entre personalidades extremas e agressivas, até que com o tempo e a jornada vivenciada no percurso, estas personalidades vão se conhecendo melhor, enfrentando as dificuldades juntos e acabam se importando, gostando e identificando-se com os problemas um do outro. A comédia se apropria da propícia estrutura de um road movie para isto, que tanto é habitual num longa que apresenta uma jornada de mudanças entre suas personagens quanto para justificar exageros em suas conveniências - algo parecido foi utilizado ainda neste ano em Uma Ladra Sem Limites. No caso de Família do Bagulho, o clima de road movie contrasta ao trazer algumas das grandes qualidades do filme e também alguns de seus maiores defeitos.

É interessante a ideia de presenciar pessoas como as abordadas aqui sendo colocadas para interpretar o Sonho Americano, de certa forma, ao viverem a família tradicional, e se observá-los tendo que personificar verdadeiros bobalhões para adequar-se a isto pode ser visto como satiricamente divertido, é uma pena que o roteiro não tenha a competência necessária para desenvolver um comentário crítico mais profundo a respeito desta mesma questão e suas necessidades superficiais em manter as aparências que sigam os moldes mais tradicionais do costume capitalista - que é justamente o que os protagonistas estão fazendo, e este será o grande conflito particular de cada um. Pensando melhor, apenas de Rose, que tenta provar que poderia ser uma "mãe digna" apesar de sua profissão, e Kenny, que busca aparentar um amadurecimento com o qual ainda não conta. O longa consegue, porém, ter a competência de atribuir força a suas personagens, em especial a Rose, que ganha ainda mais com o melhor trabalho do elenco, o de Jennifer Aniston - que, também com relação a sua beleza, parece apenas melhorar com o tempo. O personagem de Jason Sudeikis mostra-se durante toda a projeção como um homem inseguro em relação ao controle de seu plano, mas com uma personalidade que abusa da autoconfiança, sarcasmo e respostas agressivas para demonstrar ainda estar no controle de todas as situações que vivencia. Will Poulter e Emma Roberts são jovens atores que, aqui, pouco demonstram além da apatia, mas é Nick Offerman com seu escoteiro-aos-quarenta quem rouba todas as cenas em que surge, embora o desfecho dado ao seu personagem esteja bem aquém dos esforços do ator.

Mas este desfecho representa bem o espírito de um longa que, já na maturidade da projeção, acabou rendendo-se à algumas conveniências desnecessárias - espero que alguém consiga achar explicações para que aqueles quatro continuem tratando-se como uma família verdadeira mesmo quando estão sozinhos, ou a necessidade do roteiro em elaborar que havia outro traficante igualzinho a David se dirigindo à receber as encomendas de maconha no local combinado, e menos ainda a saída que o roteiro nos dá para a polícia ter deixado-os passar de volta aos EUA. Ainda assim, não posso ignorar os méritos de uma obra esperta o bastante para abraçar o humor politicamente incorreto - sem exageros gigantes -, que rende momentos divertidos o bastante para tornar a produção eficiente como um divertimento escapista para os espectadores, desde os mais atentos às diversas referências pop que surgem especialmente nas falas de David até os maiores fãs do humor físico - que, bem ou mal, ainda é capaz de gerar algumas risadas -, mas principalmente àqueles que se concentrarem nas boas interpretações que nos são entregues, cujos destaques ficam por conta das sequências em que a família Miller interage com a família Fitzgerald, e o desconforto que nos é passado pelos protagonistas na tentativa de manter as aparências sem dúvida é bastante cômico - também deixo o destaque para a cena em que Kenny beija pela primeira vez praticando com sua irmã e sua mãe falsas. Se não contasse com a força de seu elenco, Família do Bagulho provavelmente passaria desapercebido, e esta afirmação infelizmente vem sendo uma constante na maioria das comédias americanas lançadas durante este ano.

Mas o grande problema do longa dirigido por Rawson Marshall Thurber - que adota uma abordagem bastante tradicional na função, diga-se de passagem -, inclusive como divertimento escapista, é sua duração, grande demais para ser preenchida com equilíbrio por momentos cômicos. Mas como o crítico Márcio Sallem afirmou numa conversa que tivemos pouco antes de eu finalizar este texto - e espero que ele não se incomode de tê-la citado aqui - Hollywood recentemente tornou-se uma especialista em trazer produções mais longas do que estas deveriam ser. Infelizmente, para o cinéfilo.

[Avaliação final: **¹/2]

Até a próxima.

terça-feira, 24 de setembro de 2013

A Família

Família, A [Malavita, EUA/França, 2013. Direção: Luc Besson]
Surpresa agradável, A Família surgiu nos cinemas brasileiros sem muito alarde, apesar dos nomes envolvidos. Aparentava ser um projeto paralelo para todos os envolvidos na produção, e talvez isto tenha tornado-o ainda mais especial, tanto para os próprios tanto para o pequeno público que deve conferi-lo.

A trama se inicia acompanhando a chegada de uma família, tipicamente ítalo-americana, à uma nova casa, localizada na Normandia, interior da França. No início, só o que podemos concluir é isto, mas algumas intrigas são levantadas a partir de diálogos entre a família, que citam por algumas vezes o fato de este ser apenas mais um lugar entre os vários que já moraram e não por muito devem ficar. Pouco depois, entenderemos que eles estão vivendo no local como parte do programa de proteção a testemunhas, já que anos atrás tinham envolvimento com a máfia e foram os responsáveis por delatar um importante gângster para a polícia. O problema é que hábitos são difíceis de se mudar, e uma família que tem máfia em seus instintos dificilmente conseguirá perdê-la.

Em primeiro lugar, é necessário considerar que a produção não busca construir um filme sério de gangsteres, e quem busca isto certamente sofrerá uma decepção. Por isto mesmo, soa como um projeto paralelo para quem está envolvido, e foi justamente o que deu a aura da produção, que por não exigir tanto em termos dramáticos e sérios, acabou deixando todos os atores e o diretor bastante a vontade para realizar o trabalho. A Família brinca com o sub-gênero, brinca com questões históricas e culturais, com suas personagens e com a violência. Mas não pense que é uma comédia pura, pois o filme ainda reserva pitadas de tensão e dramaticidade muito bem encaixadas, que elevam sua profundidade para muito além de uma comédia despretensiosa, com a exploração de camadas que são o que o torna tão surpreendente.

A relação entre a família Blake - codinome que adotam para esta etapa do programa - torna-se conturbada pela necessidade de manter o cinismo para suas relações exteriores. Para cada nova cidade em que moram, eles tem que passar por uma longa adaptação cheia de mentiras, já que não podem cogitar revelar a verdade de seu passado para ninguém mais, por isto, é fácil se colocar no lugar deles e se identificar com seus problemas. Desde os primeiros dias nesta nova cidade, todos já reconhecem - como citado -, que não terão a oportunidade de passar muito tempo ali, mas cada um seguirá seu dia. O problema é que a adaptação para cada um deles torna-se mais difícil por esta loucura da situação em que vivem, e a questão dos hábitos de uma família mafiosa se encaixa perfeitamente nisto, já que esta realidade da família torna-os mais acostumados com a presença da violência para resolver os seus problemas e crises. O filho, Warren (John D'Leo), inspira-se no pai e organiza um sistema praticamente mafioso naturalmente em sua escola - negociando de lições de casa até cigarros -, a filha, Belle (Dianna Agron), resolve seus problemas com o assédio de garotos com a violência - no caso, uma raquete -, enquanto a mãe, Maggie (Michelle Pfeiffer), resolve problemas que qualquer dona de casa teria com, bem... fogo. O pai, Fred, ou Giovanni Manzoni (Robert De Niro), parece ter se acostumado a controlar a raiva e levar sua rotina da forma mais tradicional possível - para depois, vir a descontar num encanador. Há uma brincadeira bastante sutil com a questão do Sonho Americano, já que na família Blake, reside a aparência de uma família tradicional americana, mas quando nos aprofundamos mais em seus costumes, conhecemos pessoas que ignoram grande parte dos princípios morais e são adeptas do cinismo, e ainda por cima temos adolescentes que estão bem longe de terem os sonhos e objetivos típicos de jovens estereotipados americanos.

O humor gerado justamente com a questão da chegada dos americanos não para por aí, uma vez que esta também gera uma referência histórica, pois a Normandia também representou, durante a Segunda Guerra Mundial, o palco para a chegada dos americanos para derrotar os nazistas que mantinham-se no território francês. Com isto, a visão que os habitantes da região têm dos americanos tem uma linhagem quase heroica - o que justifica o fato de uma festa na casa dos Blake ter atraído a vizinhança como um grande evento -, e ver esta família americana deturpando sua visão do país é mais um aspecto interessante do filme. Mas o que explora a nuance mais interessante de A Família também é responsável por gerar um humor negro na produção: a tamanha naturalidade com que as personagens principais lidam com a violência para resolver qualquer pequeno problema. Além de gerar os momentos mais divertidos do filme - em especial, os acessos de raiva que povoam os pensamentos, e por algumas vezes a realidade, do pai da família -, este ponto é capaz de atingir uma camada de estudo interessante sobre o comportamento humano, em sua necessidade dos instintos mais naturais, a violência, que é explorado da forma mais cotidiana possível. 

Embora seja hábil e inteligente ao abranger todas estas questões, e especialmente em não subestimar seu espectador - não utiliza, por exemplo, a bobeira de uma narração em off explicativa para narrar o passado dos protagonistas, algo que é explicado conforme o desenvolvimento; e também não torna expositiva a abordagem da questão histórica - o roteiro de Luc Besson e Michael Caleo não está completamente livre de falhas, que variam desde algumas mais simples como o esquecimento de uma sub-trama relacionada aos problemas que Warren está tendo na escola ou outras gritantes como a conveniência que leva os mafiosos a descobrirem a localização da família Manzoni (o nome apropriado, no caso) - pois muita suspensão de descrença é necessária para aceitar de bom grado que uma piada em inglês escrita por Warren no jornal da escola fosse alcançar a prisão americana onde o gângster está preso e levá-lo a se lembrar que ele fora responsável por contá-la, anos atrás, numa reunião onde a família esteve presente -, algo que, por sorte, consegue ser revelado por uma boa execução da ação do confronto que envolve estes mafiosos e os protagonistas no terceiro ato, quando eles chegam à Normandia. A fotografia é bastante eficiente ao evocar as cores de clássicos filmes de máfia e ainda representar competentemente os contrastes entre a casa dos Blake e os outros locais da cidade - com a utilização das cores escuras dentro da casa para ilustrar a tensão ali passada e o contraste entre seu ambiente e o exterior da cidade, em cores mais claras. O trabalho de Luc Besson, no entanto, atinge a regularidade dentro da proposta descontraída do projeto, logo, nem compromete - realizando um trabalho eficaz na variação entre o bom-humor e a tensão -, nem almeja maiores pretensões - o diretor não efetua planos muito ousados e ainda dispensa o bem-vindo uso de um contra-plongée na sequência que mostra a chegada dos gangsteres à cidade.

As atuações individuais parecem compreender perfeitamente a proposta de cada personagem que interpretam, já que as personagens de A Família, embora tenham um aprofundamento dramático particular, também representam as brincadeiras que o longa faz com estereótipos do Cinema, em especial no personagem de Robert De Niro, que apresenta-se muito a vontade vivendo a caricatura da persona do mafioso que muitas vezes viveu na sétima Arte - como é bom e cada vez mais raro ver o ator numa boa performance -, na interessante Maggie Blake de Michelle Pfeiffer numa interpretação que, por algum motivo, me remeteu àquela outra mãe de uma família extravagante vivida pela atriz em Sombras da Noite. Enquanto isto, Tommy Lee Jones ganha a cena com mais um policial mal-humorado quando interage com De Niro durante o debate cinematográfico em que sua raiva contida contrasta divertidamente com o comportamento do personagem principal que parece finalmente estar se soltando - e botando tudo a perder -, e os adolescentes vividos por Dianna Agron e John D'Leo ganham seus merecidos momentos de destaque na trama. Todos realmente parecem muito à vontade em cena.

É interessante como podemos traçar um paralelo entre a família do título e a água da torneira de sua casa que insiste em se manter marrom, já que quando esta torna-se finalmente cristalina - e eles finalmente se adaptam -, será novamente abandonada - e para uma nova cidade os Blake (que ainda se despirão do sobrenome) partirão. Para onde aqueles quatro estariam indo na viagem que encerra a fita? Provavelmente, para uma nova experiência de adaptação. E nos resta esperar que, desta vez, eles tenham mais tempo para utilizar sua água cristalina.

P.S.: Teria sido a divertidíssima sequência da projeção de Os Bons Companheiros uma dica do produtor deste filme aqui e diretor do referenciado, Martin Scorsese?

[Avaliação final: ****]

Até a próxima.

domingo, 22 de setembro de 2013

Os Amantes Passageiros

Amantes Passageiros, Os [Los Amantes Pasajeros, Espanha, 2013. Direção: Pedro Almodóvar]

O novo trabalho de Pedro Almodóvar dividiu opiniões, mas, como de hábito, encontrou seu público. A comédia passa-se quase inteiramente dentro de um avião e é protagonizada por três comissários de bordo vividos por Javier Cámara, Carlos Areces e Raúl Arévalo, basicamente contando a história de um voo que está passando por sérios problemas técnicos, e com o isolamento com algumas poucas pessoas e a tensão gerada pela situação, os passageiros e tripulantes acabam sendo levados a revelar-se com diversos de seus segredos - que vão desde a homossexualidade de alguém até a revelação de que outro é um matador de aluguel -, gerando uma situação bastante confusa. Confusa e interessante, uma vez que poderia traçar um estudo sobre como o ser humano, em diversos casos, tem uma maior facilidade de confidenciar-se com um desconhecido ao passar algumas horas com este do que com um grande amigo, assim seria um baita estudo de comportamento. Mas não é bem o que ocorre.

Infelizmente, eu acabei ficando do lado dos que não gostaram do filme, que além de levar Almodóvar de volta às origens de sua carreira com o gênero de seu novo projeto - uma comédia, saindo dos dramas que vinha fazendo -, também parece transmiti-lo de volta aos tempos de um cineasta amador, que não decide em Os Amantes Passageiros se quer adotar o clima de uma comédia com toques dramáticos e sérios, a partir das mais melancólicas revelações de seus passageiros, ou se deseja utilizar o surrealismo presente para produzir uma comédia escrachada. O filme acaba transitando entre as duas abordagens e não se efetivando em nenhuma delas, já que constrói dramas artificiais e pouco profundos, e também pouco diverte para uma comédia escrachada. Com exceção de alguns poucos momentos de um humor mais sádico e sutil, a produção espanhola acaba surgindo como uma obra ousada, mas também bastante aborrecida, e que certamente será esquecida tão rápido quanto aqueles passageiros deixaram o avião ao notá-lo pousando. Poderá valer a pena para os fãs incondicionais do cineasta, que gostarão de vê-lo voltando às origens. Como obra individual, porém, Os Amantes Passageiros não funciona.

[Avaliação final: /2]

Até a próxima.

sexta-feira, 20 de setembro de 2013

Distrito 9

Deixa eu avisar uma coisa antes: Ali embaixo - e em cima também - você vai ver um marcador, um tal de "aquecimento", que vai servir pra separar posts como este aqui, que você está lendo, em que o texto do post tenha, de algum modo, uma relação direta com um lançamento nos cinemas brasileiros nos próximos dias. Pode ser falando sobre um filme específico, apresentando alguma franquia ou seja lá o que for, mas tem que ter algum elemento que o ligue diretamente ao lançamento, não somente uma pequena coisa que os interligue. Entenderam? Bom, então vamos ver como é que funciona.



Distrito 9 [District 9, 2009, África do Sul/EUA/Nova Zelândia/Canadá. Direção: Neill Blomkamp]

Hoje mesmo, está chegando aos cinemas brasileiros Elysium, ficção científica com Matt Damon, Jodie Foster e Wagner Moura. Este filme também é dirigido pelo Neill Blomkamp, que quatro anos atrás - apadrinhado pelo Peter Jackson - trouxe uma ficção de orçamento relativamente baixo, mas com grande sucesso de público e crítica, e, que dizem, ter semelhanças com este seu novo projeto além de simplesmente o nome do diretor nos créditos. Este sucesso se chama Distrito 9.

Como devo ver o tal Elysium nos próximos dias, decidi conferir este trabalho e posso dizer que os elogios não estavam errados. Distrito 9 tem um conceito fantástico, mas o desenvolvimento torna-o ainda mais grandioso. Uma nave extraterrestre pousou na África do Sul, quando não pode mais seguir em sua viagem, e o governo do país, sofrendo a pressão internacional, decidiu criar um complexo habitacional supervisionado para manter as criaturas e proteger a população local da possível ameaça. O problema é que o complexo, precário, torna-se um caos, já que assim como os seres humanos, os alienígenas também tem um sistema desorganizado de divisão social. O déficit ainda é maior pelo fato de o país não estar preparado para receber os seres - como qualquer nação estaria com uma situação destas -, e acaba tratando-os com preconceito e crueldade.

A produção de Neill Blomkamp traz seriedade e aprofunda-se em tudo o que a ficção científica oferece a um bom cineasta para trabalhar com o gênero: Abordar questões e gerar reflexões a respeito nossa realidade, nossa história e atualidade, através dos elementos fantásticos. O modo como a população e - especialmente - o governo recebem os "visitantes" representa uma baita crítica no preconceito que está instaurado em nossa humanidade, a negar inicialmente tudo o que contradiz nossos hábitos. A crítica funciona para qualquer região e grupo social - não é a toa que o filme levou tanta gente aos cinemas, no mundo todo -, e pode fazer todo mundo refletir sobre o modo como recebemos imigrantes, pessoas de opção sexual diferente, entre outros casos. Os questionamentos também funcionam com a questão do governo e das grandes corporações. A entrada do estado e da MNU (MultiNacional Unida) no complexo tem uma retratação que deixa bastante claro os seus interesses. Não são apenas em retirar os alienígenas de lá para proteger a população, mas também para resgatar o armamento destes e poder trazer melhores recursos para suas forças armadas. Ainda assim, o filme não precisa definir em momento algum se os humanos ou os alienígenas são "heróis" ou "vilões", você pode perceber que ambos tem seus problemas, ninguém é o bonzinho perfeito ou o puro cruel, embora a grande crueldade seja cometida pelos humanos.

Com toda esta profundidade de crítica e interpretação, a trama principal pode até ficar em segundo plano por alguns momentos, mas continua interessante. No caso, o que ocorre é que o chefe da operação da empresa, Wikus Van De Merwe (Sharlto Copley, em interpretação fabulosa), acaba sendo atingido por um material genético e entrando num processo de - uma assustadora - transformação para uma criatura alienígena. A coisa toda vira de lado e ele enxerga a crueldade de melhor forma, quando passa a ser perseguido pelo governo e por sua própria empresa para tornar-se, basicamente, uma experiência. Mas não pense que Distrito 9 fica só na questão mais profunda e inteligente sem saber muito bem como divertir, pois o longa ainda reserva ótimas sequências de ação - auxiliadas pela trilha sonora, clichê mas eficiente -, alguns momentos extremamente delicados e emocionantes, e efeitos visuais de verossimilhança impressionante - ainda mais pelo orçamento, que não é alto, mas com o bom auxílio da fotografia, que adota um estilo quase documental. Uma ficção científica em sua plenitude.

[Avaliação final: ****]

Até a próxima.

quarta-feira, 18 de setembro de 2013

Analisando as bilheterias - 13 de setembro

Numa semana com estreias e movimentações mais interessantes nas bilheterias nacionais do que nas americanas, chegamos a mais uma análise dos números de público do final de semana de 13 a 15 de setembro. Vejam só:

Bilheterias americanas - Final de semana de 13 a 15 de setembro:
  • Sobrenatural - Parte 2 seguiu a onda dos terrores baratos e realistas que estão fazendo sucesso nos últimos anos e liderou o período. O impressionante foi que, nisto, o filme já fez impressionantes oito vezes o próprio orçamento, somente no território de produção. Com 40 milhões arrecadados, liderou tranquilamente.
  • Esta foi mais uma semana em que as outras grandes produções em cartaz tiveram a oportunidade de se assegurar melhor pela falta de lançamentos arrasa-quarteirões. Elysium (9º) se aproxima dos 90 milhões no país e Família do Bagulho (5º) só se consagra ainda mais como a comédia de maior sucesso do ano e atinge os 130 milhões.
  • Riddick 3 também aproveitou esta situação e até ganhou salas na busca por um hit, mas a ficção científica não vai sequer melhor que seu antecessor, ainda que não seja um fracasso.
Bilheterias brasileiros - Final de semana de 13 a 15 de setembro:
  • Assim como ocorreu nas terras norte-americanas, um terror também soube utilizar do marketing da sexta-feira 13 e liderou o final de semana no Brasil, mas foi Invocação do Mal. Tendo passado por 391 salas, o excelente terror se deu muito bem na média de público, e se deu melhor que o segundo colocado, Aviões, que chegou em bem mais salas do que o longa de James Wan (638) e ainda teve a ajuda das cópias 3D, mas as férias já passaram e a animação não teve fôlego para liderar.
  • Como havíamos dito na previsão da semana passada, O Ataque não teve a liderança diretamente tomada por seus competidores de mesmo público que estrearam - Dose Dupla (6º, em 219 salas) e Rush (5º, em 211) -, mas teve grande influência da chegada destas para a competição. Ainda assim, fica num seguro terceiro lugar.
  • A partir daí, e muito em decorrência do grande número de estreias, tivemos quedas acentuadas, como as de Percy Jackson e o Mar de Monstros (8º) que perdeu seis posições - a competição direta com Aviões tem grande responsabilidade nisto - e One Direction: This is Us - que seguiu o fluxo de filmes de bandas e shows, que costumam ter uma boa estreia, mas logo sumirem do mapa.
  • A próxima sexta-feira traz três estreias grandes, mas cada uma com um público bastante particular, portanto acabam fugindo das competições entre si. As Bem Armadas é uma comédia com mais foco no público feminino, Elysium é uma ficção científica e A Família uma comédia de máfia com um alvo apenas no público adulto. Não acredito que nenhuma tire o líder de sua posição, mas as duas primeiras estreias citadas deverão ameaçar bastantes as duas posições seguintes a ele, além de deverem provocar o sumiço completo de Círculo de Fogo das salas e ainda diminuir a presença de Gente Grande 2. A Família deve roubar um pouco do público de Dose Dupla, pelo apelo parecido, mas não deve ir além do alcance do top 10.


Até a próxima.

sábado, 14 de setembro de 2013

Gente Grande 2


Gente Grande 2 [Grown Ups 2, EUA, 2013. Direção: Dennis Dugan]
Lançamento no Brasil: 16 de agosto de 2013, nos cinemas.

Durante toda a sessão de Gente Grande 2, eu me fazia seguinte questão: "Sobre o que este filme é, afinal de contas?". Há alguns filmes em que nos fazemos esta questão pela amplitude de assuntos que eles abordam ou então por este ter uma profundidade que trouxe reflexões além de nossa compreensão. Mas neste caso, a pergunta foi literal. A resposta poderia vir no parágrafo seguinte, em que abordaria a descrição do que a obra se trata, mas ao invés de citar que "os filhos dos protagonistas estão em seu último dia de aulas" ou que "o personagem de Adam Sandler está em conflito com a questão de ter ou não mais um filho", prefiro dizer simplesmente que Gente Grande 2 se trata das filmagens de um dia na rotina de um bairro em que Adam Sandler, Kevin James, Chris Rock, David Spade e alguns amigos dessa turma moram - e todos convivem praticamente juntos -, mas este dia não é atípico ou grandioso, pelo contrário, parece ser um dia dos mais chatos ou apáticos. Mas a vida de Adam Sandler deve ser bastante apática mesmo, para que ele consiga gastar seu tempo investindo no roteiro como este.

Embora ver este filme não estivesse em minhas pretensões para esta última sexta-feira no cinema (eu vi por questões que não vêm ao caso), tentei me esforçar ao máximo para gostar dele, afinal de contas, o primeiro pode ser bobo, mas até é divertido e tem uma razão de ser, pois narra o reencontro de um quinteto de amigos muitos anos após a última vez que se viram, com suas memórias fluindo para reencaixar as amizades, mas e agora, que eles já se encontraram, recuperaram suas amizades e voltaram a morar próximos? Bom, agora nada, agora a vida segue (mas eles precisavam engordar seus bolsos em mais uma investida nesta franquia). Mas justamente no dia em que esta narrativa se passa, acontecem algumas coisas extraordinárias - não, não no sentido fantástico, apenas de fugir do ordinário mesmo -, como a chegada de um filho até então desconhecido pelo personagem do David Spade, a descoberta do personagem do Adam Sandler de que sua esposa está gravida outra vez, o primeiro encontro da filha do personagem do Chris Rock - que também descobre o talento para a música -, um reencontro entre o mesmo personagem do Sandler e uma namorada de muitos anos atrás - que ele não se lembra -, uma festa universitária acontecendo na represa onde antes os protagonistas costumavam nadar, as esposas destes mesmos protagonistas iniciando um curso de algum esporte (não me negarei a dizer que não me lembro, já que esqueci-me de grande parte do que ocorreu durante esta projeção), uma festa que reunirá toda a cidade na casa do Sandler e algumas outras coisas. Tudo no mesmo dia, por conveniências das mais variadas - e furadas. Por mais que não sejam coisas comuns, isto não serve como argumento para produzir um longa-metragem, é apenas um dia com algumas surpresas, que por algum motivo muito mal explicado foram acontecer todas no mesmo dia.

Porém, o erro de todos nós foi achar que poderíamos subestimar a sabedoria de nosso querido Adam Sandler - com a parceria de seus colegas igualmente interessantes Fred Wolf e Tim Herlihy -, que consegue tornar este dia comum na vida dele e sua turminha do barulho em algo com espaço para tantos elementos artísticos que vão desde a metalinguagem - em certo momento, Sandler diz algo como isto para os seus filhos: "os homens de nossa família têm a fama de serem feios e conquistarem belas mulheres, ou então, como você explicaria eu e sua mãe? A não ser que estivéssemos num daqueles filmes de Hollywood (risos, risos, risos)" -, piadas homofóbicas, referências pop de fazer inveja à série Community - vejam só, a festa de Sandler se passa nos anos 80, que belo reservatório para fantasiarmos os atores de celebridades da época e darmos close em seus figurinos para nossos espectadores imbecis notarem quem eles são! -, e críticas políticas sagazes - "ninguém mais teme os negros, a culpa é do Obama!", grita o personagem de Chris Rock algo assim num momento. Aposto que Sandler, este gênio da comédia contemporânea, também orientou seu parceiro e amigo de sempre, o diretor Dennis Dugan, a utilizar o máximo que pudesse de slow motion e ainda executasse planos geniais como aquele em que a câmera acompanha David Spade girando dentro de um pneu - logo depois, ele vomita, que surpreendente! -, afinal de contas, o que são as parcerias entre Scorsese e De Niro, Burton e Depp, Scorsese e DiCaprio, Almodóvar e Penélope Cruz, Wes Anderson e Murray, para não citar outros, se temos Dugan e Sandler? A melhor parceria da sétima Arte, mas eu tenho certeza que eles só devem estar se lembrando da existência das seis primeiras.

O trabalho feito no longa também mostra-se exemplar na evolução de suas personagens em relação ao primeiro filme, já que aqui, foram quase que completamente esquecidas as rivalidades entre a turma de protagonistas e a outra turma que também havia estudado com eles - claro, a amizade supera tudo! -, e ainda podemos ver Spade e seu recém-conhecido filho superando os estranhamentos iniciais em sua relação para formar uma família - claro, o amor paternal supera tudo! -, mas não citarei as outras belas evoluções, já que ainda poderemos vê-las aflorando-se ainda mais no terceiro capítulo desta bela jornada. Aliás, já estou ansioso por este terceiro capítulo, será que se passará no Natal?

O que resta agora é esperar ansioso, pois eu tenho certeza que sempre poderemos contar com a competência de um roteiro como este de Sandler e cia. para tornar até os dias mais apáticos na vida de alguns comediantes sem graça - "Poxa, faltou o Rob!" em algum momento Nick Swardson, que hoje parece substituir Schneider nos projetos de Sandler, deve ter lamentado durante as filmagens - uma experiência especial. Mas será que eles também teriam a competência necessária para devolver meu dinheiro gasto na sessão?

Avaliação Final: [¹/2]

Até a próxima.

quarta-feira, 11 de setembro de 2013

Analisando as bilheterias - 06 de Setembro

Chegamos finalmente a mais uma edição da análise de bilheterias da semana, mas a estrutura será diferente da primeira vez. A partir desta edição, seguiremos com a divisão entra as bilheterias americanas e brasileiras, mas em vez de um texto para resumir as observações sobre os números da semana, a divisão será feita em tópicos. Poderemos voltar a mudar, caso o feedback não seja positivo, mas agora chegou a hora de ir ao que interessa:

Bilheterias Americanas - Final de semana de 06 a 08 de setembro:

  • Riddick 3 (foto) liderou a semana com o modesto número de pouco mais de 19 milhões de dólares. A continuação foi inesperada, já que o segundo filme se deu mal nas bilheterias, mas considerando o pouco alarde que havia em torno do filme, foi um bom resultado. Orçado em 38 milhões, deve se pagar logo. Lembrando que chega por aqui no dia 27.
  • Quem continua surpreendendo são as comédias Instructions Not Included e The World's End, especialmente a primeira, que expandiu seu circuito para 717 salas (ou seja, bem poucas ainda), e conseguiu o surpreendente resultado da terceira posição, e deve ganhar ainda mais salas na próxima semana. Já quanto à conclusão da Trilogia do Cornetto - aguardadíssima por mim -, os resultados são mais modestos, com um décimo lugar na terceira semana em cartaz, mas que já fez o suficiente para se pagar por lá, e olha que os dois filmes anteriores arrecadaram bem mais fora dos EUA.
  • Como o líder da semana foi também a única grande estreia, os filmes que já estavam em cartaz tiveram mais um período para acumular mais público, o que ajudou Elysium (7º) a evitar um fracasso e Família do Bagulho (4º) e O Mordomo da Casa Branca (2º) a consolidarem o seu sucesso, uma vez que foram as únicas grandes opções da semana em seus gêneros - com exceção ao quarto colocado - e puderam se dar um pouco melhor sem a competição direta.
Bilheterias brasileiras - Final de semana de 06 a 08 de setembro:

  • O Ataque (foto) desabou nas bilheterias americanas mesmo tendo muito mais apelo com o público yankee, não era tão aguardado para fazer o sucesso que está fazendo fora dos EUA, o que também ocorreu em nosso país, onde ficou com a liderança do final de semana, mesmo entrando em cartaz com um número menor de salas do que a continuação de Percy Jackson, que vinha liderando por três semanas seguidas e finalmente caiu, apesar de ainda ter a vantagem das cópias 3D, algo que o líder não tem.
  • Final de semana este que trouxe um grande número de estreias maiores: Além da citada acima, também houveram Jobs (5º), One Direction: This is Us (6º), Casa da Mãe Joana 2 (9º) e - em menor escala, mas ainda moderadamente grande estreia - A Filha do Meu Melhor Amigo (15º).
  • Os Estagiários e Gente Grande 2 mantém-se respectivamente firmes logo atrás do já citado segundo colocado, mesmo numa semana marcada por grandes quedas entre as posições seguintes, como Se Puder...Dirija!, Os Instrumentos Mortais e O Casamento do Ano, que caíram quatro posições. Como as únicas opções de comédia em cartaz - ao lado de duas das citadas grandes quedas -, os dois filmes devem manter-se com uma boa jornada pelo Brasil.
  • A próxima sexta-feira trará quatro grandes estreias aos nossos cinemas, e pelo mesmo público-alvo, devem acabar saindo do Top 10 para a próxima semana Os Smurfs 2 (Aviões chega para tornar-se a opção em animações), enquanto O Ataque deve sair da liderança, não por alguma competição direta que a tome, já que Dose Dupla e Rush, cujos públicos-alvos aparentam-se bastante com o da produção de Roland Emmerich, não deverão ter fôlego para tanto, mas sim pelo fato de que estes acabarão ocasionando uma divisão de público que deve atrapalhar o caminho do longa. Invocação do Mal também tem tudo para se dar bem, como na onda do terror recente.
Até semana que vem. Ou, até a próxima.

domingo, 8 de setembro de 2013

Ladra Sem Limites, Uma

                         Ladra Sem Limites, Uma
Identity Thief, EUA, 2013. Direção: Seth Gordon. Roteiro: Craig Mazin, com base no argumento do próprio e de Jerry Eeten. Elenco: Jason Bateman, Melissa McCarthy, Amanda Peet, Jonathan Banks. Duração: 111 min. Lançamento no Brasil: 17 de maio de 2013, nos cinemas.
É curioso ver que filmes como este 
Uma Ladra Sem Limites fazem muito mais sucesso em seu país de origem do que no Brasil e no resto do mundo, e isto se deve ao fato de ser estrelado por humoristas muito mais populares na terra do fast food, como são Jason Bateman Melissa McCarthy, formados na televisão. Casos parecidos também acontecem com os filmes de Seth Rogen, Jason Sudeikis, Will Ferell, Tina Fey e outros nomes, que em sua maioria também ganharam notoriedade na tevê. O caso deste não foi diferente, e o que nos espera é um filme em que Melissa McCarthy vive Melissa McCarthy Jason Bateman vive Jason Bateman - portanto uma é aquela moça chata e alegre de sempre e ele é aquele cara ingênuo e correto de sempre -, algumas referências à televisão (destaco especialmente a que envolve Breaking Bad) e uma trama de fuga para botá-los na estrada ao maior estilo da dinâmica vista em Antes Só Do Que Mal Acompanhado.

Ela toma identidades de pessoas e a vítima da vez foi ele, que vai até a Florida atrás da ladra e por várias vezes acaba sendo enganado por ela, mas continua dando-a novas chances e ficando à beira de um ataque de nervos por conta disso. Os dois estão na estrada, e a convivência acaba gerando uma relação de amizade entre os extremos - ele, extremamente correto; ela, golpista - até que ele acabe sendo corrompido e roube o cartão do chefe. Tudo isso e muito mais acontece durante uma viagem da casa da criminosa até a casa do bom samaritano, com criminosos e a polícia os perseguindo.



O resultado acaba sendo um filme apenas competente, com um ritmo ágil e um clima simpático, mas que acaba condenado ao lugar-comum e à previsibilidade - não da trama, mas das situações cômicas: você sempre sabe quando elas vão surgir. A química entre os dois é bacana e a direção e as performances são bem montadas para que você odeie ela e tenha simpatia por ele, com o sinismo dos dois sendo responsável pelos melhores momentos do longa. Algumas coisas são mal explicadas, mas elas vão acabar sendo engolidas por uma jornada de road movie que em algumas obras como esta é inserida para permitir conveniências. O filme é divertido, mas tem alguns elementos que irritam quando aprofundados - como os dois criminosos que perseguem a dupla, que poderiam ser descartados. A impressão que fica é que poderia ter sido melhor revisado.



[Avaliação final: **¹/2]



Até a próxima.

sábado, 7 de setembro de 2013

Jobs

Jobs
jOBS, EUA, 2013. Direção: Joshua Michael Stern. Roteiro: Matt Whiteley. Elenco: Ashton Kutcher, Josh Gad, Dermot Mulroney, J.K.Simmons. Duração: 128 min. Lançamento no Brasil: 06 de setembro de 2013, nos cinemas. 

Provavelmente, deveria me sentir levemente imobilizado a me envolver plenamente com este longa dirigido por Joshua Michael Stern por não fazer parte do grupo dos admiradores de Steve Jobs - por motivos nos quais ainda virei a me aprofundar -, mas o Cinema é uma Arte fascinante a ponto de levar o espectador a envolver-se e identificar-se com figuras que não admira - aliás, neste caso, deveria citar o audiovisual como um todo, uma vez que a televisão também leva-nos à identificação até com serial killers, traficantes de drogas e médicos arrogantes -, e a partir deste ponto de vista, Jobs torna-se interessante.

Não creio que seja necessário aprofundar-se de forma mais detalhada na descrição do longa, que procura abordar toda a fase da juventude de Steve (Ashton Kutcher) a partir de seus anos de faculdade, quando era um jovem descompromissado e com requintes de rebeldia, com todas as suas influências setentistas, passando então pelo processo do surgimento da Apple ainda como uma firma de garagem e avançando até sua fase como o CEO de uma das maiores empresas de tecnologia do mundo, estudando seu amadurecimento e conflitos - pessoais e profissionais - durante este período. Jobs falha, como é possível concluir apenas por ler esta pouco preguiçosa descrição, ao não focar-se tanto na vida de seu retratado, preterindo-a em diversos momentos na intenção de narrar de forma mais prioritária a jornada da própria empresa, o que não significa necessariamente deixar a vida do californiano de lado para somente retratar o cotidiano da corporação da maçã, mas sim retratar as atitudes de Jobs no comando da empresa, o que acaba soando como um ato falho.

Surgindo com suas primeiras notícias de produção não muito após a morte do verdadeiro Steve Jobs, era antecipado - e precipitadamente - que o principal ato falho do projeto era a escolha de Kutcher para viver o personagem-título, e com grande esforço, o normalmente limitado ator consegue superar as críticas e entregar um bom trabalho. Interpretar alguém notório e real sempre representa um grande desafio aos atores, e o trabalho de Ashton Kutcher acaba tornando-se mais facilitado pelos arquivos de Jobs estarem mais frescos e claros, com isto, o ator pôde se embasar para compor o personagem - como contra-exemplo, utilizo Daniel Day-Lewis em Lincoln, que não teve nada no que se embasar; não que isto diminua seus méritos, pois sua composição segue competente, especialmente como será notado a partir de sua postura, confiante durante a fase de sua juventude até com um modo repreendido de andar quando seu personagem já viveu um maior número de conflitos, o que consegue atribuir seu peso dramático. O tão prometido trabalho de maquiagem não compromete, mas em nenhum momento nos faz esquecer completamente de que é o eterno Kelso quem está por trás da pele do homem da maçã

A biografia, enquanto obra literária, não é oficial e, portanto, sua adaptação segue o mesmo caminho, o que não gera questionamentos em relação à veracidade dos fatos como obra cinematográfica, já que não faz parte dos méritos desta a retratação literal. Neste caso, este contexto extra-oficial tornou-se um ponto que torna o roteiro do estreante Matt Whiteley mais interessante, uma vez que este foge de paradigmas que costumam marcar cinebiografias, como no mais notado aqui, a questão da abordagem do próprio retratado, que costuma ser bastante certinha e heroica na maioria dos lançamentos do gênero. Em seu primeiro trabalho, Whiteley consegue demonstrar que Steve Jobs estava longe da perfeição ética, sendo como empresário um homem que depreciava seus inferiores e como homem um verdadeiro empresário, que esquecia de seus amigos assim que eles deixavam de ser úteis para a sua criação. Há alguns momentos no caso de cinebiografias em que torna-se difícil definir se determinadas afirmações da figura retratada que contradizem outras passadas da mesma são furos de roteiro ou simples mudanças em seu comportamento, como quando Jobs afirma, em certo momento, que um produto da Apple não serve apenas para o uso em si, mas "por uma questão de status" para, algumas sequências depois, vir a afirmar que sua empresa diferencia-se das concorrentes por não levar em conta justamente este mesmo status, mas sim "as pessoas", ou mesmo no caso de, em sua juventude como estudante, este afirmar que deseja "sair do sistema" para, quando já no comando da empresa, se entregar completamente ao pior escalão deste, o sistema capitalista. Mas gosto de pensar que, em alguns casos, foi uma questão da própria evolução do personagem. Infelizmente, não há como relevar todos.

A direção do pouco experiente Joshua Michael Stern também prova-se interessante, evocando a abordagem simbólica do personagem-título quando, numa sequência, posiciona um quadro de Albert Einstein paralelamente ao posicionamento de um diálogo entre Steve e John Sculley (Matthew Modine), e conduzindo o filme com uma boa atmosfera dramática dentro de sua proposta, aliando-se à fotografia de Russell Carpenter e à direção de Bruce Robert Hill que, acostumados com produções bem maiores, adaptaram-se bem a esta produção pequena sabendo, com recursos diminutos, ambientar muito bem o visual do longa aos anos 70, especialmente.

Sem em momento algum entregar-se a um drama pesado ou denso, sempre mantendo uma atmosfera agradável, Jobs acaba envolvendo-se em algumas situações levemente caricatas. Ainda assim, um de seus elementos mais interessantes é sua honestidade, já que, afora o elemento de novidade na abordagem de sua figura retratada, Jobs constitui-se num drama redondo, se assim posso definir, que apropria-se com competência de diversos clichês - tanto em alguns conflitos, quanto na maniqueísta trilha sonora - e tem seus objetivos claramente definidos. Justamente por isto, chego ao ponto de meu posicionamento de não-admiração a Jobs ou sua empresa, uma vez que não consigo enxergar como "revolucionário" alguém cujas criações mantém-se num campo semântico não pode ser alcançado por grande parte da população ou cruze fronteiras políticas, artísticas, históricas ou filosóficas, e mesmo no campo da informática, de acordo com a retratação do filme aqui abordado, Jobs tinha muito mais influência como um marketeiro para a Apple do que na criação em si (vamos estabelecer desta forma: Jobs era a sede da Apple na Califórnia, enquanto Steve Wozniak (Josh Gad), representa as sedes de fabricação - algumas com escravos -, da empresa em regiões asiáticas), mas, por fim, a questão é que minha ideologia política não permite reconhecer como uma liderança a ser seguida alguém cujos grandes alcances foram para a evolução do capitalismo - ainda assim, não deixo de reconhecer sua importância como símbolo e chave de liderança para a tecnologia que facilita a vida de algumas pessoas, e me incluo neste grupo -, e foi graças a todos estes pontos que Jobs conseguiu ganhar ainda mais méritos em minha avaliação, pois mesmo tendo vários pontos para dificultar minha identificação com o Steve Jobs apresentado nesta abordagem, imergi na obra e fui levado a torcer por suas conquistas e envolver-me com os conflitos por ele vividos durante a jornada narrada pelo longa, o que já representa o cumprimento de seus claros objetivos iniciais.

Deixo a observação de que funcionará ainda melhor para os mais interessados em conhecer por dentro a jornada da Apple e a ascensão de Steve Jobs dentro da informática e da própria empresa, o que de forma alguma inibe os outros públicos de aproveitarem a obra em sua totalidade.

[Avaliação final: ***]

Originalmente publicado no Loggado.

Até a próxima.

segunda-feira, 2 de setembro de 2013

Casamento do Ano, O

Casamento do Ano, O 
The Big Wedding, EUA, 2013. Direção e roteiro: Justin Zackham, com base no longa original de Jean-Stéphane Bron. Elenco: Robert De Niro, Katherine Heigl, Diane Keaton, Ben Barnes, Amanda Seyfried, Topher Grace, Susan Sarandon, Robin Williams. Duração: 89 min. Lançamento no Brasil: 30 de agosto de 2013, nos cinemas.

Basta observar um cartaz de O Casamento do Ano para prever o que estava por vir, numa provável comédia familiar com um elenco estelar que a tornaria mais aguardada e bem sucedida nas bilheterias, como sempre ocorre quando se reúne um grande número de atores renomados. O que acontece não é justamente isto, gerando algo duvidoso.

Até um certo tempo atrás, ver uma reunião entre vários atores renomados num mesmo filme tornava-se um evento para o Cinema naquele ano, mas com isto se tornando cada vez mais comum em grandes produções para tentar alavancar seu sucesso de público e com muitos grandes atores escolhendo mal seus projetos - o que faz sua presença não assegurar mais a qualidade do projeto -, não é mais algo tão animador ver Robert De Niro, Diane Keaton, Susan Sarandon e Robin Williams unidos num elenco - ainda mais pela fase atual de suas carreiras -, o que não assegurou nem a qualidade do longa como sequer trouxe bons resultados de público. A motivação para utilizar estes quatro nomes e alguns outros mais foi simples: A família Griffin tem uma história bem conturbada, o que abrange desde os pais até os filhos, e quando Alejandro (Ben Barnes), um dos filhos, está às vésperas de se casar com Missy (Amanda Seyfried), ele acaba se lembrando de que sua mãe biológica está vindo da Colômbia somente para o evento e também de que ela é extremamente religiosa, assim um conflito ocorrerá caso ele não previna sua família disto, uma vez que seus pais adotivos, Don (De Niro) e Ellie (Keaton), são divorciados, o que seria considerado um pecado grave para sua mãe biológica, e como ele não deseja desapontá-la, Don e Ellie terão que fingir que estão casados por um final de semana, por mais inimaginável que esta proposta possa parecer. Com isto, Bebe (Sarandon), a namorada de Don, será a mais atingida; mas não a única, logo, a resolução do problema original trará uma série de conflitos potencialmente maiores do que o próprio durante o casamento de Alejandro, que talvez seja o menos culpado desta história.

Embora seja necessário se adequar à proposta do longa - que até torna-se interessante por subverter um pouco a impressão inicial que se havia em torno dele -, não há como perdoar uma obra com tantos erros simplesmente por ela ser recebida por aqueles que a defendem como um mero "produto de entretenimento", quando não é; é uma obra de Arte como qualquer filme, mesmo que um de seus principais objetivos seja sim o entretenimento, mas ele não é o único, e portanto, há sérios erros reconhecíveis. Neste caso, deixo claro que o filme funciona sim com o objetivo de divertir, gerando algumas risadas mais pela performance de seu elenco do que pelo roteiro em si, que falha bastante.

A começar pelo simples fato de que basta observar a trama central para notar que há uma americanização excessiva e até certo preconceito contido em todas as bases d'O Casamento do Ano, uma vez que temos toda a família principal tendo que se revirar para suprir a necessidade da visitante que está por vir, ou simplesmente e para deixar as coisas mais claras, temos uma família americana tradicional se esforçando para superar os problemas e empecilhos que uma imigrante os trouxe. Esta visão é tão conservadora que se encaixaria muito melhor numa época em que os principais atores desta fita estavam no auge de suas carreiras, mas o demérito não é único deste filme aqui, afinal, infelizmente ainda está contido na abordagem de diversos longas oriundos do país que também produziu este aqui (vejam só, mais uma categoria em que este tornou-se apenas mais um na lista). A diferença talvez esteja no fato de esta família não ser das mais tradicionais, já que adotaram um filho latino-americano, convivem com questões como o alcoolismo e discutindo sexo deliberadamente na frente de convidados; mas ao mesmo tempo, também provam-se extremamente conservadores ao questionarem-se por algumas vezes sobre a decisão da adoção e se esta foi correta - neste caso, os pais -, ou consultar-se constantemente com um padre (Robin Williams) para tomar suas decisões e fazer um pacto para só perderem a virgindade no encontro do verdadeiro amor - neste caso, os filhos. A impressão que fica acaba não sendo o conservador ou sequer o contemporâneo, mas apenas uma certa bipolaridade. 

Aproveito a citação recente à questão das discussões sexuais da família para chegar a um dos pontos interessantes deste longa, que é esta liberdade de todos os membros da família em abordar a questão sexual na frente de todos, o que diferencia a produção de comédias familiares por contar com diversas piadas adultas - divertidas, em alguns casos - e até algumas reflexões sobre as influências do sexo para cada um ali (uma pena que elas não se aprofundam muito), mas ainda que tenha este fator de novidade e maturidade, o roteiro de Justin Zackham segue fórmulas que populam o gênero familiar, ao seguir uma estrutura bastante simplista: no início, somos brevemente apresentados às personagens e seu distanciamento; depois, presenciamos os conflitos que surgem com a situação que os reúne; e para o final, guarda-se toda a confusão reservada pelas revelações dos familiares uns aos outros, complementando com o entendimento final entre a família. E, é claro, ainda há espaço para Robert De Niro ser estapeado por algumas vezes e para que várias pessoas, em algum momento da trama, caiam num lago.

O Casamento do Ano poderia seguir sem maiores problemas - mesmo com o conservadorismo e os clichês - caso focasse apenas na trama principal e no triângulo amoroso formado pelos três veteranos protagonistas do elenco, assim tornando-se um filme que seria bobinho, mas que provavelmente funcionaria, o problema é que o longa procura criar tantas sub-tramas e situações fracas para preencher seu tempo de tela, que acaba dando uma rasteira em si mesmo, como no drama criado na relação entre Don e sua filha, Lyla, que nunca é bem explicado pelo roteiro, ou na crise que parece haver na relação entre Missy e Alejandro - justamente os que estão prestes a se casar -, passando pelo mesmo problema, ainda ficam dramas que pareciam estar prestes a se desenvolver e as mudanças repentinas no comportamento de personagens - Ellie incentiva Don o tempo todo a casar-se com Bebe para ser fiel à ela, mas acaba sendo a responsável pelo ato da traição. Fica difícil comover-se por estas situações apenas com a trilha sonora melodramática de fundo, se elas não foram bem aprofundadas. Ainda há alguns furos, como o simples fato de a família, mesmo estando fingindo ser a família perfeita para a convidada - ajudada pelo fato de a mãe biológica não falar inglês -, fala de seus problemas e do próprio fingimento por várias vezes na frente da irmã biológica de Alejandro, sendo que esta fala inglês. Não há motivações maiores para debater os méritos técnicos do filme, já que a direção e a fotografia, por exemplo, funcionam por estarem ali apenas para filmar o que acontece no roteiro, de forma burocrática e tradicional. No final, parece que a família já se rendeu ao fato de o grande plano ter dado errado, mas as aparências são mantidas.

Ainda que com tantos deméritos artísticos, O Casamento do Ano está longe de ser insuportável, simplesmente pelo fato de que um filme insuportável talvez seja aquele que se torna desagradável a ponto de você querer deixar a sessão ou fique pensando depois no quanto aquela experiência foi desagradável, e, por sorte, este aqui não se encaixa neste grupo, uma vez que é bastante breve e não será lembrado - nem por seus defeitos - muitas horas após a projeção, agradando por alguns momentos e divertindo por vários outros, apesar dos defeitos, mérito que se deve especialmente ao talento de seu elenco, que embora não esteja em sua melhor forma ou muito à vontade, ainda têm talento o bastante para humanizar um pouco suas personagens e tirar até alguma graça do fraco roteiro quando estão todos juntos em cena - o que comprova os breves risos na sequência do confessionário -, e também em especial nos poucos momentos de Robin Williams em cena - seu padre alcoólatra é abobadamente cômico - e na química entre o trio Robert De NiroDiane Keaton e Susan Sarandon - ambos se saem surpreendentemente bem, apesar de um pouco caricatos, quando dividem a tela -, o que ao mesmo tempo nos faz questionar o motivo de eles não adicionarem um pouquinho mais de esforços à esta receita e protagonizarem longas melhores do que este, como um dia fizeram. O lamento também fica para Katherine Heigl, que diferentemente de seus colegas citados - que já construíram uma carreira antes de entrar na má fase -, mesmo ainda jovem, já emprega seu talento, beleza e carisma de sobra em escolhas, no mínimo, duvidosas.

Pouco após a sessão, viria a descobrir que este filme é a refilmagem de uma produção francesa (chamada Mon Frére Se Marie), o que me levou, embora sem ter visto a versão original, a concluir algo bastante triste, o fato de que O Casamento do Ano trata-se basicamente disto: Pegar um material original e estrangeiro, jogar um elenco estrelado e algumas fórmulas para torná-lo mais adaptado ao grande público - ou mainstream -, e americanizá-lo o máximo possível. Uma receita que pode fazer sucesso nas bilheterias - e, neste caso, arrancar algumas risadas -, mas que desvaloriza a Arte.

[Avaliação final: *¹/2]

Originalmente publicado no Loggado.

Até a próxima.