Meus Vizinhos São um Terror |
A carreira do Tom Hanks é algo bastante interessante de se analisar, pois diferente do que ocorre com muitos atores tão consagrados quanto ele, que começam sua carreira topando projetos muito duvidosos apenas para pagar suas despesas de iniciante até que um filme surja para consagrá-lo comercialmente e/ou em premiações, o californiano já fazia filmes de grande sucesso entre o público desde o início de sua jornada no Cinema, praticamente; alguns deles hoje sendo considerados pequenos clássicos oitentistas - como Quero Ser Grande -, e quase todos sempre cogitáveis para uma boa sessão de comédia - como Um Dia a Casa Cai -, até que finalmente tornou-se um ator consagrado também pela crítica, Oscar e afins - com Filadélfia -, em seguida fez diversos dramas excelentes e vinha há alguns anos atravessando uma fase um pouco mais fraca, que para a sorte dos muitos admiradores de seu trabalho parece estar acabando. Este Meus Vizinhos São um Terror faz parte inicial de sua carreira, como um dos principais jovens astros de comédia norte-americanos, e ainda que não tenha se tornado um clássico, faz certamente parte dos sempre cogitáveis para sessões cômicas.
Lançada em 1989, Meus Vizinhos São um Terror conta com elementos bastantes característicos não somente de sua época, mas também da cultura americana, que variam desde seus figurinos tipicamente oitentistas até o comportamento de suas personagens, ao observarem a vizinhança durante as férias de verão no país - aparentemente -, todos se conhecem e moram próximos, com suas casas e comportamentos que representam muito bem o sonho americano. A trama fala desta vizinhança que seguia normalmente suas vidas até que uma nova família chega à vizinhança, e intriga a todos por seu comportamento estranho, nunca aparecerem à vista dos vizinhos e manterem a casa mal cuidada, mas quando a paranoia toma a cabeça de todos os vizinhos, especialmente Ray (Hanks), a respeito destes mistérios que rondam os novos moradores, uma verdadeira expedição cerca a casa dos mesmos, gerando confusões maiores do que o esperado.
O interessante é que, apesar de ser bem despretensiosa, a comédia alcança uma inteligência muito bem-vinda, como no poder de sátira que a direção de Joe Dante consegue atribuir a algumas sequências ali - como na excelente cena em que a câmera se afasta e aproxima das personagens de Hanks e Rick Ducommun enquanto ambos gritam "noooo!" como numa lamentação dramática (para a impressão inicial, é a imagem que ilustra o texto), ou quando as câmeras voltam-se também dramaticamente quando alguma personagem solta uma frase de efeito bem caricata, além da atmosfera sombria que cerca todas as cenas na casa dos novos vizinhos.
Em menor escala, há uma crítica ao conservadorismo a partir do personagem veterano de guerra, patriota e cristão vivido por Bruce Dern, numa performance enlouquecida e inspirada. Mas esta mesma crítica passa por um maior aprofundamento com a abordagem das proporções da especulação da vizinhança, afinal de contas, não é uma mentira que sempre que alguém novo ou com comportamentos diferentes dos nossos surge em nossos círculos de interação, um estranhamento sempre ocorre - claro que aqui, este toma uma proporção implausível -, e o discurso de Ray próximo ao desfecho nos explicita melhor isto, afinal de contas, os loucos seriam os mais fechados, que não aceitam alguém diferente deles, ou aqueles que tem comportamentos diferentes? A conclusão é de cada um, mas a divertidíssima comédia funciona para todos.
[Avaliação final: ***¹/2]
Até a próxima.
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