Há algo de maravilhoso no cinema de
monstros. Eu sempre achei absolutamente encantadoras e envolventes narrativas
nas quais criaturas violentas surgem - misteriosamente, na maioria das vezes -
e, impondo a soberania de sua natureza, colocam em risco a continuidade da
existência humana, obrigando um grupo de pessoas a aventurarem-se na tentativa
de detê-las. "Tubarão" e "Jurassic Park", de
Steven Spielberg, "O Enigma de Outro Mundo", de John
Carpenter, ou as múltiplas adaptações de "Godzilla": contos
que, por diferentes abordagens, nos agarram intensamente.
Esta foi uma das raras vertentes da
produção cinematográfica que cresceram qualitativamente com a modernização
produtiva artística; o engrandecimento técnico destas produções favorece-as
enquanto espetáculos do audiovisual - mesmo que objetivando exclusivamente o
entretenimento. E a missão do entretenimento não concebe necessariamente obras
estúpidas, afinal – conforme Kong: A
Ilha da Caveira comprova. O texto de Dan Gilroy, Max Borenstein e Derek
Connolly demonstra agilidade e esperteza ao arquitetar uma personagem para a
representação metafórica do antagonismo histórico oriundo da presunçosa e
excessiva crença humana em nosso próprio progresso técnico-industrial; também
comprova originalidade quando oferece raro espaço à figura de uma
fotojornalista na narrativa, reconhecendo a inestimável importância do ofício
na retratação e significação da realidade que nos encara. Há, claro, deslizes,
a exemplo do apressado e artificial desenvolvimento da aproximação –
inicialmente conflituosa, previsivelmente – entre Mason (Brie Larson) e James
(Tom Hiddleston), ou de uma perceptível indecisão quanto ao caminho a ser
seguido com determinadas personagens – San (Tian Jing) e Mills (Jason Mitchell)
ainda estão trocando diálogos justificativos iniciais de suas presenças na
trama, passado o primeiro ato da produção.
Nada que empalideça, contudo, a fotografia
calorosamente saturada de Larry Fong, emulando a atmosfera setentista-bélica de
“Apocalypse Now” com o acréscimo de
fundamentais doses prioritárias de descontração. A mixagem entre o temor e a
diversão aventureira é precisamente calculada, conforme demonstram as
inevitáveis reações chocadas às aparições mortais das criaturas do submundo
soterrado; do susto à vibração sob a lógica, aqui eficientemente empregada, da
exposição. Kong: A Ilha da Caveira é
supremamente divertido.
Kong: Skull Island, EUA, 2017. De Jordan Vogt-Roberts. ★★★½
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