segunda-feira, 27 de março de 2017

Kong: A Ilha da Caveira


Há algo de maravilhoso no cinema de monstros. Eu sempre achei absolutamente encantadoras e envolventes narrativas nas quais criaturas violentas surgem - misteriosamente, na maioria das vezes - e, impondo a soberania de sua natureza, colocam em risco a continuidade da existência humana, obrigando um grupo de pessoas a aventurarem-se na tentativa de detê-las. "Tubarão" e "Jurassic Park", de Steven Spielberg, "O Enigma de Outro Mundo", de John Carpenter, ou as múltiplas adaptações de "Godzilla": contos que, por diferentes abordagens, nos agarram intensamente.

Esta foi uma das raras vertentes da produção cinematográfica que cresceram qualitativamente com a modernização produtiva artística; o engrandecimento técnico destas produções favorece-as enquanto espetáculos do audiovisual - mesmo que objetivando exclusivamente o entretenimento. E a missão do entretenimento não concebe necessariamente obras estúpidas, afinal – conforme Kong: A Ilha da Caveira comprova. O texto de Dan Gilroy, Max Borenstein e Derek Connolly demonstra agilidade e esperteza ao arquitetar uma personagem para a representação metafórica do antagonismo histórico oriundo da presunçosa e excessiva crença humana em nosso próprio progresso técnico-industrial; também comprova originalidade quando oferece raro espaço à figura de uma fotojornalista na narrativa, reconhecendo a inestimável importância do ofício na retratação e significação da realidade que nos encara. Há, claro, deslizes, a exemplo do apressado e artificial desenvolvimento da aproximação – inicialmente conflituosa, previsivelmente – entre Mason (Brie Larson) e James (Tom Hiddleston), ou de uma perceptível indecisão quanto ao caminho a ser seguido com determinadas personagens – San (Tian Jing) e Mills (Jason Mitchell) ainda estão trocando diálogos justificativos iniciais de suas presenças na trama, passado o primeiro ato da produção.

Nada que empalideça, contudo, a fotografia calorosamente saturada de Larry Fong, emulando a atmosfera setentista-bélica de “Apocalypse Now” com o acréscimo de fundamentais doses prioritárias de descontração. A mixagem entre o temor e a diversão aventureira é precisamente calculada, conforme demonstram as inevitáveis reações chocadas às aparições mortais das criaturas do submundo soterrado; do susto à vibração sob a lógica, aqui eficientemente empregada, da exposição. Kong: A Ilha da Caveira é supremamente divertido.

Kong: Skull Island, EUA, 2017. De Jordan Vogt-Roberts. ★★★½


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